O que se passou no ataque na TV do Equador? Eis o relato de um jornalista
Foram mais de duas horas de sequestro nos estúdios da TC, no Equador. O jornalista Jorge Rendón contou não só como foi avisado de que havia agressores no estúdio, onde estava a apresentar um programa em direto, como também o que se passou depois.
© onlypanasec/ X (antigo Twitter)
Mundo Equador
Um dos jornalistas que estava na emissão do canal TC, cuja emissão foi interrompida em direto no Equador, contou como tudo se passou.
O ataque aconteceu na terça-feira, dias depois de o país começar a sentir uma onda de violência, que começou depois de um dos maiores criminosos do país, conhecido por ‘Fito’, ter fugido da prisão no domingo.
As imagens da emboscada que aconteceu no estúdio do canal equatoriano correram o mundo, dado que, como a emissão era em direto, foi possível ver um grupo de sequestradores a ameaçarem os funcionários do canal, obrigando-os a deitarem-se no chão. As imagens mostram ainda alguns elementos do grupo a mostrarem granadas e paus de dinamite e a dizerem que “têm bombas”.
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— Only Panas (@onlypanasec) January 9, 2024
ASÍ FUERON LOS MINUTOS PREVIOS a la toma de las instalaciones de TC Televisión, narrado por el periodista Jorge Rendón pic.twitter.com/EdIaW5oRAF
Jorge Rendón contou como tudo se passou atrás das câmaras, tanto num relato transmitido pela TC, como também pela BBC. O jornalista começou por explicar que ouviu um barulho enquanto apresentava o programa ‘Después del noticiero’ ['Depois do Telejornal', na tradução livre] – e que pensou que este seria uma discussão entre colegas.
“Primeiro ouvi alguns ruídos nos corredores da emissora, fora do ‘set’ televisão, e pensei: o que está acontecer? Era raro isto acontecer. E o barulho estava a ficar mais mais alto”, recordou.
O jornalista explicou que foi quando foram para um intervalo que um dos produtores lhe disse pelos auriculares para fecharem a porta do estúdio porque havia pessoas armadas e que estavam a controlar o canal.
“No estúdio temos portas blindadas. Então nós - éramos aproximadamente 7 - fechámos a porta com todas as nossas forças. Com isso, ganhámos algum tempo”, referiu, acrescentando que pediu a uma colega para ligar a um agente que conheciam.
O jornalista explicou que, enquanto os agressores, cujo número se desconhece, estavam do lado de lá da porta, mostraram que sabiam quem estava do outro lado, gritando pelo seu nome. “Abre a porta, sabemos que estás aí”, terão dito.
Era um grupo violento, armado até aos dentes
“Batiam com muita força na porta. Ameaçaram-nos que se não a abríssemos iam disparar ou fazer explodir a porta”, apontou. Após os agressores entrarem em estúdio, “começaram a subjugar todos, queriam que fizéssemos uma transmissão ao vivo”.
Rendón tinha-se escondido, entretanto, mas os sequestradores estavam à procura dele. “Começaram a tirar colegas da redação ou dos corredores e colocá-los como reféns ao vivo de dentro do estúdio”, lembrou, explicando que essas foram as imagens que foram transmitidas ao mundo.
“Era um grupo violento, armado até aos dentes”, notou.
"Colocaram dinamite na lapela de um repórter (José Luis Calderón) que estava lá e uma arma longa apontada para sua cabeça. E forçaram-no a pedir à polícia que saísse do local”, explicou ainda, apontado que um dos funcionários foi baleado numa perna e que outro partiu o braço.
"Quando a polícia — a quem sou infinitamente grato — chegou, cercou todo o canal e os grupos de inteligência tática fizeram um plano. Usaram os meus colegas como escudos humanos quando a polícia entrou no ‘set’ com escudos blindados”, recordou.
Rendón contou também que os criminosos ainda lançaram um explosivo que partiu uma janela, “colocando muitas pessoas em risco”.
As autoridades equatorianas conseguiram mesmo deter todos os suspeitos e apreender todos os explosivos. “Naquele momento, respirei aliviado. Estava muito nervoso. Procurei ajudar os meus colegas, abraçá-los, dar um pouco de força, ajudar a passar mais informações”, afirmou, acrescentando que a situação durou cerca de duas horas.
“Isso faz parte de um plano terrorista que começou na Colômbia na década de 80. Um dos objetivos do plano é dominar um canal de televisão. É a estratégia usada pelos narcoterroristas. Infelizmente, permitiram que essa violência prosperasse. O Equador costumava ser pacífico, mas organizações criminosas tem entrado no país devido ao tráfico de drogas. O Equador precisa de mudanças urgentes. Tem sido muito difícil trabalhar como jornalista neste momento. É realmente preocupante”, desabafou.
“O que aconteceu foi terrorismo, narcoterrorismo. E anda de mãos dadas com a corrupção, que contaminou diferentes níveis do Estado. Esta infeliz experiência deveria servir de exemplo para toda a região. Deve ser um alerta para toda a América Latina”, rematou Rendón.
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