O alto comissário das Nações Unidas para os Refugiados, Filippo Grandi, afirmou, esta quarta-feira, que está preocupado com o facto de a guerra na Ucrânia estar a ser esquecida e considerou que "há uma tendência para nos habituarmos ao sofrimento dos ucranianos".
Após uma semana de visita à Ucrânia, o responsável lembrou, em entrevista à Associated Press (AP), que os "ucranianos estão a viver uma guerra brutal, apesar de outras crises globais estarem a ocupar o centro das atenções".
"Penso que a grande diferença do ano passado para este ano é que, este ano, isto já não é notícia no mundo", afirmou. "De certa forma, há uma tendência para nos habituarmos ao sofrimento dos ucranianos".
Este ano, a agência da ONU pediu 4,2 mil milhões de dólares para ajudar a Ucrânia, um valor inferior ao pedido no ano passado. "Fizemos essa escolha porque estamos conscientes de que há tantas crises no mundo que isso é um fator e, portanto, concentrámo-nos realmente nas necessidades prioritárias", explicou Grandi.
O responsável instou ainda os Estados Unidos e a União Europeia a aprovarem os seus pacotes de ajuda, uma vez que é seu dever "recordar a todos que a ajuda humanitária não deve ser refém da política".
"Se esses pacotes ficarem bloqueados, estou muito preocupado com o facto de a ajuda humanitária não chegar. Isso terá um impacto imediato aqui", lamentou.
Sublinhe-se que a Rússia invadiu a Ucrânia a 24 de fevereiro de 2022, com o argumento de proteger as minorias separatistas pró-russas no leste e "desnazificar" o país vizinho, independente desde 1991, após a desagregação da antiga União Soviética, e que tem vindo a afastar-se do espaço de influência de Moscovo e a aproximar-se da Europa e do Ocidente.
A guerra na Ucrânia já provocou dezenas de milhares de mortos de ambos os lados, mas não conheceu avanços significativos no teatro de operações nos últimos meses, mantendo-se os dois beligerantes irredutíveis nas suas posições territoriais e sem abertura para cedências negociais.
Segundo dados do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR), a invasão russa da Ucrânia já provocou 10 milhões de deslocados. Destes, 3,7 milhões são considerados deslocados internos e 6,3 milhões refugiados.
As últimas semanas foram marcadas por ataques aéreos em grande escala da Rússia contra cidades e infraestruturas ucranianas, enquanto as forças de Kyiv têm visado alvos em território russo próximos da fronteira e na península da Crimeia, ilegalmente anexada em 2014.
Leia Também: "É óbvio que russos estão a brincar com as vidas dos reféns ucranianos"