Também a Autoridade Palestiniana reagiu à decisão da mais alta instância judicial da ONU, que apelou a Israel para que se abstenha de quaisquer atos genocidas enquanto prossegue a sua operação militar na Faixa de Gaza.
"É um aviso importante de que nenhum Estado está acima da lei", afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros da Autoridade Palestiniana, Riyad al-Maliki, numa mensagem vídeo, sublinhando que tal deverá servir como uma "chamada de atenção a Israel e aos atores que permitiram a sua enraizada impunidade".
"Os Estados têm agora a obrigação jurídica clara de pôr fim à guerra genocida de Israel contra o povo palestiniano de Gaza", prosseguiu Al-Maliki após conhecida a decisão do TIJ, recordando que as decisões daquele tribunal são vinculativas, ou seja, de "cumprimento obrigatório".
"A Palestina acolhe com satisfação as medidas provisórias hoje ordenadas pelo Tribunal Internacional de Justiça. Os juízes do TIJ avaliaram os factos e o direito. Decidiram em favor da humanidade e do direito internacional", afirmou Al-Maliki na mensagem vídeo divulgada pelo seu ministério.
Na sequência da queixa de genocídio apresentada pela África do Sul ao TIJ -- com base na Convenção das Nações Unidas contra o Genocídio, assinada após o Holocausto, o tribunal da ONU exigiu hoje que Israel "adote medidas imediatas e eficazes" para permitir o acesso humanitário à Faixa de Gaza e "punir" qualquer incitamento ao genocídio contra civis palestinianos, embora não tenha apelado para um cessar-fogo em Gaza.
A 07 de outubro, combatentes do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) -- desde 2007 no poder na Faixa de Gaza e classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos, a União Europeia e Israel -- realizaram em território israelita um ataque de proporções sem precedentes desde a criação do Estado de Israel, em 1948, fazendo 1.139 mortos, na maioria civis, segundo o mais recente balanço das autoridades israelitas, e cerca de 250 reféns, dos quais mais de 100 permanecem em cativeiro.
Em retaliação, Israel declarou uma guerra para "erradicar" o Hamas, que começou por cortes ao abastecimento de comida, água, eletricidade e combustível na Faixa de Gaza e bombardeamentos diários, seguidos de uma ofensiva terrestre ao norte do território, que depois se estendeu ao sul.
A guerra entre Israel e o Hamas, que hoje entrou no 112.º dia e continua a ameaçar alastrar a toda a região do Médio Oriente, fez até agora na Faixa de Gaza 26.083 mortos, 63.740 feridos e 8.000 desaparecidos, na maioria civis, de acordo com o último balanço das autoridades locais, e quase dois milhões de deslocados (mais de 85% dos habitantes), segundo a ONU, mergulhando o enclave palestiniano sobrepovoado e pobre numa grave crise humanitária, com toda a população afetada por níveis graves de fome.
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