O principal desafio da primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, é convencer os líderes africanos das virtudes do "plano Mattei", assim chamado em homenagem a Enrico Mattei, fundador da Eni (o gigante estatal italiano da energia), que nos anos 50 defendeu uma relação de cooperação com os países africanos, que passava por os ajudar a desenvolver os recursos naturais.

A Itália, que assume a presidência do G7 este ano, comprometeu-se a fazer do desenvolvimento africano um tema central do mandato, em parte para aumentar a sua influência num continente onde potências como a China, Rússia, Turquia, Índia e Japão têm vindo a aumentar o seu peso político.

As ideias de Roma para o desenvolvimento africano estendem-se por áreas tão variadas como educação, sistemas de saúde e água.

É esperada a presença de representantes de mais de 25 países no Senado italiano, bem como de representantes de agências das Nações Unidas e de instituições internacionais como o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial e o Programa Alimentar Mundial (PAM) das Nações Unidas.

Foi anunciada a presença dos presidentes da Comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamat, da Tunísia, Kais Saied, do Senegal, Macky Sall, bem como das Comores, da República do Congo, da Eritreia, do Gana, do Quénia, da Mauritânia, de Moçambique e do Zimbabué. Outros países, como Argélia, Chade, Egito e República Democrática do Congo, enviaram membros dos respetivos governos.

Os presidentes das instituições europeias, Ursula von der Leyen (Comissão), Charles Michel (Conselho Europeu) e Roberta Metsola (Parlamento) também são esperados no evento, que termina hoje à noite. Não é claro que apoio poderá Roma receber da União Europeia, que em 2022 apresentou um plano de ajuda ao continente africano de 150 mil milhões de euros.

Os delegados começaram a esta manhã a Roma, onde foram recebidos pelo chefe da diplomacia italiana, Antonio Tajani, e depois por Meloni, que chegou ao poder em 2022 à frente de uma plataforma anti-migrantes, e agora quer fazer da Itália uma ponte entre a Europa e África, oferecendo à primeira o acesso a novos fornecimentos de energia e à segunda investimentos significativos.

A ajuda pública ao desenvolvimento italiana não é expressiva, foi fixada nos 2,8 milhões de euros por ano, entre 2024 e 2026, mas o diário Corriere della Sera escreve que o plano Mattei, cujo montante e pormenores são desconhecidos, pode vir a afetar quatro mil milhões de euros, nos próximos cinco a sete anos, aos setores da agroindústria, transportes e infraestruturas e, sobretudo, energia no continente africano.

Meloni espera ainda atrair a atenção de outros países europeus, que procuram reduzir a dependência do gás russo, após a invasão da Ucrânia por Moscovo, em fevereiro de 2022.

A França e a China em 2021, seguidas da Rússia em 2023, também organizaram cimeiras com África.

Em termos de migração, o plano Mattei envolve a mitigação dos fatores que estão na sua origem e a persuasão dos países africanos a assinarem acordos de readmissão para os migrantes rejeitados.

A líder italiana chegou ao poder com a promessa de estancar o desembarque em Itália de migrantes provenientes do Norte de África, mas este fluxo aumentou acentuadamente desde que assumiu o cargo, de cerca de 105.000 migrantes em 2022 para quase 158.000 em 2023.

Cerca de quarenta organizações da sociedade civil africana manifestaram o receio de que o objetivo do plano Mattei seja simplesmente "aumentar o acesso da Itália ao gás fóssil africano em benefício da Europa e reforçar o papel das empresas italianas na exploração dos recursos naturais e humanos de África".

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