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Senegal na "incerteza total" e "ninguém sabe como reagirá o exército"

O Senegal está na "incerteza total", a oposição vai contestar o prolongamento do mandato do Presidente Macky Sall e "ninguém sabe como reagirá o exército", se as manifestações violentas se alastrarem ao país, descreveu à Lusa um analista.

Senegal na "incerteza total" e "ninguém sabe como reagirá o exército"
Notícias ao Minuto

14:28 - 06/02/24 por Lusa

Mundo Analista

"Duas coisas vão acontecer, haverá uma batalha jurídica em que a oposição contestará a lei [aprovada esta segunda-feira pelo parlamento senegalês] perante o Conselho Constitucional (CS), e, por outro lado, vai entrar em luta política, o que levará a manifestações violentas -- que já começaram em Dacar e em algumas outras cidades do Senegal", disse à Lusa Paulin Maurice Toupane, analista principal do Institute for Strategic Studies (ISS), em declarações a partir da capital senegalesa.

Como o exército vai reagir, "ninguém sabe", acrescentou Toupane, até porque "o exército senegalês sempre teve uma atitude republicana e sempre interveio para corrigir as coisas... Sempre falou com os diferentes atores para encontrar soluções, mas esta é uma situação completamente nova e tudo pode acontecer nos próximos dias", acrescentou.

Maurice Toupane não excluiu mesmo o cenário de um retrocesso na decisão tomada por Macky Sall no passado fim-de-semana, de revogar a realização das eleições presidenciais previstas para o próximo dia 25, a escassas 12 horas do início da campanha eleitoral.

"Penso que, se houver manifestações violentas em todas as cidades do Senegal, o Presidente poderá voltar atrás. Penso que é um cenário possível, mas, como já disse, estamos num estado de incerteza total", afirmou.

Macky Sall baseou a decisão de adiar as eleições presidenciais em dois argumentos. Em primeiro lugar, na acusação de alegada corrupção de membros do CS - o organismo garante da legalidade do processo -, feita pelo Partido Democrático Senegalês (PDS), cujo candidato, Karim Wade - filho e antigo ministro do ex-presidente Abdoulaye Wade -, foi excluído da corrida presidencial por ter dupla nacionalidade, senegalesa e francesa, não obstante ter renunciado formal e comprovadamente à segunda, dias antes do anúncio da lista final de candidatos às eleições.

O segundo argumento foi precisamente o facto de o CS ter validado a candidatura de Rose Wardani, líder do movimento Senegal Novo, acusada nas redes sociais no passado dia 01 de possuir nacionalidade e número de eleitor franceses, provas alegadamente constantes numa lista do Consulado de França em Dacar.

"A verdade é que o atual regime está em apuros porque o candidato que escolheu, o primeiro-ministro Amadou Ba, não só não é apoiado unanimemente pela coligação governamental Benno Bokk Yakaar (BBY), como não está em boa posição para ganhar estas eleições", contrapôs Toupane.

"Pelo contrário", acrescentou o analista, "é um candidato da oposição, Bassirou Diomaye Daikhar Faye -- candidato do Pastef (partido dissolvido por decreto em julho de 2023), liderado por Ousmane Sonko, atualmente na prisão - que, nos últimos dias, tem contado com o apoio de muitos partidos políticos e movimentos da sociedade civil e poderia ganhar estas eleições, se se realizassem a 25 de fevereiro".

Maurice Toupane considera que "a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) perdeu a oportunidade de recordar às autoridades senegalesas que devem respeitar o protocolo sobre a boa governação, que proíbe a alteração das regras do jogo eleitoral seis meses antes das eleições".

"Penso que a CEDEAO deveria ter pedido ao Presidente Sall que anulasse a sua decisão", afirmou ainda, acrescentando que, "neste momento, os atores senegaleses não esperam absolutamente nada" da organização regional, que "apenas emitiu um comunicado lacónico".

"Alguns dos seus presidentes, nomeadamente o Presidente da Guiné-Bissau (país que faz fronteira com o Senegal), Umaro Sissoko Embaló, chegou mesmo a felicitar Macky Sall pelo adiamento destas eleições", ilustrou.

Ainda mais "lacónica" foi a declaração de Paris, que apenas apelou à realização de eleições "o mais rapidamente possível", de acordo com fonte diplomática não identificada pela AFP.

"A França está atualmente numa má posição em muitos países da África Ocidental, onde é acusada de estar por detrás da CEDEAO, que [diversamente do que agora aconteceu] não hesitou em sancionar severamente os vários golpes de Estado que tiveram lugar no Sahel, nomeadamente no Burkina Faso, Mali e Níger", sublinhou Toupane.

O adiamento das eleições para até 15 de dezembro e o prolongamento do mandato de Sall por mais um ano -- proposta de lei apresentada pelo PDS e apoida pela BBY - foram aprovados esta segunda-feira pela Assembleia Nacional senegalesa, pela quase totalidade dos deputados presentes, 105 em 106, depois dos deputados da oposição terem sido retirados à força do hemiciclo pela polícia paramilitar senegalesa.

Leia Também: Dívida do Senegal perde valor depois de adiamento das eleições

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