O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, declarou na quarta-feira ter dado ordens ao exército para preparar uma ofensiva em Rafah, situada na fronteira fechada com o Egito, onde estão amontoados 1,3 milhões de palestinianos.
O número de habitantes da cidade quintuplicou desde o início da guerra, em outubro.
A grande maioria são pessoas deslocadas devido ao conflito, como Adel Al-Hajj, do campo de Al-Shati, na cidade de Gaza, que teme agora uma invasão que disse que poderá terminar em massacres.
"Para onde é que podemos ir? Não há espaço suficiente para acolher os deslocados em Rafah e não há lugar seguro", disse este palestiniano que vive numa tenda à agência francesa AFP.
Em Rafah, os deslocados ergueram dezenas de milhares de tendas e habitações improvisadas feitas de chapas, postes de metal e ramos de árvores.
Alguns optaram por deslocar os abrigos mais para oeste, em direção ao mar, perante a perspetiva de um ataque terrestre israelita.
Oum Ahmed al-Burai, 59 anos, uma deslocada do campo de Al-Shati, vive com as quatro filhas e três netos perto do edifício inacabado do hospital do Qatar, na parte ocidental de Rafah.
"Primeiro, fugimos para Khan Younès, depois chegámos a Khirbet Al-Adas [a nordeste de Rafah]. Ontem, refugiámo-nos perto do hospital do Qatar com a minha irmã e a família", depois das declarações do primeiro-ministro israelita, contou.
Também ela não esconde os receios: "Se Rafah for atacada, haverá massacres e genocídio. Não sei se conseguiremos fugir para o Egito ou se os massacres nos atingirão".
A preocupação dos deslocados com uma ofensiva em Rafah é cada vez maior, enquanto Gaza é alvo de bombardeamentos incessantes, em represália ao ataque do movimento islamita Hamas em solo israelita, em 07 de outubro de 2023.
O chefe da ONU, António Guterres, advertiu que um ataque a Rafah iria "aumentar exponencialmente o que já é um pesadelo humanitário".
Um funcionário da agência da ONU para os refugiados palestinianos (UNRWA), que pediu para não ser identificado, disse que as pessoas se dirigem para o mar por pensarem que "uma possível invasão vai começar no leste", perto da fronteira israelita.
"Estamos à espera de morrer. Os bombardeamentos intensificaram-se depois das declarações de Netanyahu", disse Jaber Abou Alwan, 52 anos, deslocado de Khan Younès.
Apesar de tudo, espera que haja um cessar-fogo para poder regressar a casa.
Mohamed Al-Jarrah, que também se mudou para Rafah, falou do "medo do desconhecido".
"Não sei para onde vamos. Parece que a operação em Rafah está a aproximar-se, pois os bombardeamentos aumentaram consideravelmente", disse à AFP.
O chefe da diplomacia norte-americana, Antony Blinken, concluiu na quinta-feira uma ronda regional para apoiar as negociações sobre um acordo de tréguas.
O objetivo é permitir a entrega de mais ajuda à Faixa de Gaza e a libertação dos reféns israelitas capturados durante o ataque do Hamas e detidos no território palestiniano.
No Cairo, uma "nova ronda de negociações" começou na quinta-feira com vista a uma trégua em Gaza e uma troca de prisioneiros e reféns palestinianos, disse um funcionário egípcio à AFP.
"Esperamos que as negociações sejam muito (...) difíceis, mas o Hamas está aberto a discussões e interessado em chegar a um cessar-fogo", explicou uma fonte próxima do grupo extremista.
O ataque sem precedentes do Hamas em 07 de outubro causou cerca de 1.200 mortos, segundo Israel.
Desde então, quase 28.000 palestinianos, a grande maioria mulheres, crianças e adolescentes, foram mortos na Faixa de Gaza pelos bombardeamentos e operações militares israelitas, segundo o Ministério da Saúde do Hamas.
Leia Também: Nove mortos em bombardeamentos noturnos no centro e sul de Gaza