Desde o ataque do grupo islamita Hamas a Israel, em 07 de outubro, que Guterres tenta falar com o primeiro-ministro israelita, mas sempre sem sucesso, uma vez que Benjamim Netanyahu se recusa a atender as chamadas do secretário-geral.
Questionado hoje pelos jornalistas sobre qual seria a sua mensagem para Netanyahu caso conseguisse falar com o primeiro-ministro israelita na iminência de um ataque a Rafah, Guterres remeteu para a sua "particular preocupação com a deterioração das condições e da segurança para a entrega de ajuda humanitária em Gaza".
"Há um colapso na ordem pública. Ao mesmo tempo, temos restrições impostas por Israel que não melhoram e limitam a distribuição humanitária. Por outro lado, os mecanismos de resolução de conflitos para proteger a prestação de ajuda humanitária em relação às operações humanitárias não são eficazes", avaliou, em declarações à imprensa em Nova Iorque.
"E assim, a minha sincera esperança é que as negociações para a libertação de reféns e alguma forma de cessação das hostilidades sejam bem-sucedidas para evitar uma ofensiva total sobre Rafah, onde está localizado o núcleo do sistema humanitário e que teria consequências devastadoras", afirmou ainda o secretário-geral.
António Guterres admitiu também "profunda preocupação" com o número de jornalistas que foram mortos neste conflito, frisando que a "liberdade de imprensa é condição fundamental para que as pessoas possam saber o que realmente está a acontecer em todo o mundo".
Israel está a planear um ataque a Rafah, sul da Faixa de Gaza e junto à fronteira com o Egito, apesar dos avisos em sentido contrário dos aliados e organizações internacionais, alarmadas com potenciais consequências humanitárias.
Em Rafah, aos cerca de 200 mil habitantes que residiam na cidade, juntaram-se mais de 1,3 milhões de deslocados vindos no centro e norte do enclave palestiniano, na sequência dos numerosos ataques do exército israelita contra posições do Hamas tanto em Gaza (norte) como em Khan Yunis (centro/sul), iniciados em 07 de outubro de 2023.
Apesar de Governos e organizações não-governamentais internacionais terem avisado que os palestinianos já não têm para onde ir, Benjamin Netanyahu insiste na ideia, alegando a necessidade de erradicar o Hamas, movimento islamita palestiniano que atacou Israel há quatro meses, e sem dar pormenores sobre o destino da população.
Na segunda-feira, a ONU rejeitou "fazer parte do deslocamento forçado da população" em Rafah, com o porta-voz de Guterres a repetir que "não há nenhum lugar seguro" na Faixa de Gaza.
"Não faremos parte de um deslocamento forçado da população", disse Stéphane Dujarric, frisando que, "no estado atual das coisas, não há lugar seguro em Gaza".
"Há grandes desafios, a maioria das pessoas está no sul. (...) Não se pode mandar as pessoas de volta para zonas repletas de engenhos não detonados, já para não falar da falta de abrigo", declarou o porta-voz, na sua conferência de imprensa diária em Nova Iorque, referindo-se às zonas norte e centro deste território palestiniano.
Dujarric voltou a denunciar a insuficiência da ajuda humanitária que entra no enclave, alertando que os stocks atuais "poderão durar apenas alguns dias".
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