Em entrevista à agência Lusa, o assessor e conselheiro do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmou que a decisão em relação a Avdiivka destinou-se "apenas a evitar que os homens fossem cercados" e que a retirada foi curta: "Literalmente cem metros ou duzentos metros de distância. Por outras palavras, tudo continua igual".
"Operacionalmente, foram tomadas decisões táticas sobre Avdiivka e em relação a outras linhas de defesa apenas para evitar que a Rússia cerque uma parte das nossas Forças Armadas - e também em termos da continuação dos combates no setor de Donetsk [leste da Ucrânia] -, que está quase no mesmo lugar e vai continuar", destacou o conselheiro presidencial, na entrevista à Lusa, que será divulgada na íntegra no domingo.
Mykhailo Podolyak assinalou que a Rússia procura tomar a pequena cidade (32 mil habitantes antes da guerra) há cerca do oito meses, usando nesse período "uma enorme quantidade de recursos de reserva", e que, apesar disso perdeu milhares de soldados e centenas de equipamentos militares "sem avançar nem capturar um único assentamento no setor de Donetsk durante todo um ano de hostilidades".
Na sua campanha militar, as forças russas, segundo o assessor da Presidência ucraniana, recorrem a um grande número de efetivos, que se limita a praticar "destruição total" em Avdiivka, bem como em qualquer outro assentamento em Donetsk.
"É muito importante que os nossos parceiros compreendam que a Rússia não luta de forma criativa, não luta com tecnologia. Luta com números, não valoriza a vida humana, e, por isso, enfatizo mais uma vez que milhares de pessoas estão simplesmente a morrer", declarou Podolyak, alertando que travar as tropas invasoras não só atinge o seu potencial de mobilização como previne mais destruição.
O conselheiro de Zelenky disse que a situação no terreno está a ser "controlada inteiramente pelo Estado-Maior, através de decisões operacionais e técnicas adequadas", que permitem "gerir eficazmente o sistema de defesa".
Nesse sentido, observou, "nada de significativo está a acontecer nesta área e as ações defensivas tomadas nos últimos dois dias continuam".
O Exército ucraniano retirou-se da cidade de Avdiivka (leste), onde a situação se deteriorou consideravelmente nos últimos dias, anunciou o general ucraniano que comanda este setor.
"De acordo com a ordem recebida, retirámo-nos de Avdiivka para posições preparadas com antecedência", escreveu Oleksandre Tarnavsky, na sexta-feira à noite, na plataforma Telegram.
"Numa situação em que o inimigo está a avançar sobre os cadáveres dos próprios soldados e tem dez vezes mais obuses (...) esta é a única decisão correta", disse o general Tarnavsky.
As forças ucranianas evitaram assim ficar cercadas perto desta cidade industrial largamente destruída, indicou.
Esta foi a primeira grande decisão tomada pelo novo comandante das Forças Armadas ucranianas, Oleksandre Syrsky, depois de ter sido nomeado a 08 de fevereiro, em substituição do popular general Valerii Zaluzhnyi, e foi justificada pelo imperativo "de preservar" a vida dos soldados.
"Decidi retirar as nossas unidades da cidade e passar a defender em linhas mais favoráveis", escreveu Oleksandre Syrsky na rede social Facebook.
Para Volodymyr Zelensky, a retirada do exército ucraniano da cidade Avdiivka foi uma "decisão justa" para "salvar o maior número de vidas possível".
Discursando na Conferência de Segurança de Munique, no sul da Alemanha, o Presidente ucraniano disse que as ações das tropas do seu país na linha da frente são limitadas apenas pela falta de munições e mísseis de longo alcance do Ocidente, permitindo à Rússia adaptar-se à situação no campo de batalha.
Nos últimos meses, Avdiivka tornou-se num dos pontos mais quentes da guerra na Ucrânia, iniciada com a invasão das forças de Moscovo em 24 de fevereiro de 2022, com o argumento de proteger as minorias separatistas pró-russas no leste e "desnazificar" o país vizinho.
A guerra na Ucrânia, que desde a sua independência em 1991, se tem aproximado do Ocidente, já provocou dezenas de milhares de mortos de ambos os lados, mas não conheceu avanços significativos no teatro de operações nos últimos meses, mantendo-se os dois beligerantes irredutíveis nas suas posições territoriais e sem abertura para cedências negociais.
As últimas semanas foram marcadas por ataques aéreos em grande escala da Rússia contra cidades e infraestruturas ucranianas, enquanto as forças de Kyiv têm visado alvos em território russo e na península anexada da Crimeia.
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