O protesto de Madrid foi o maior que já chegou à capital espanhola e foi convocado pela associação União das Uniões (UDU), que não faz parte do grupo de confederações agrícolas reconhecidas como interlocutoras do Ministério da Agricultura.
Segundo a Delegação do Governo em Madrid (a entidade responsável por autorizar e organizar os dispositivos de segurança das manifestações), 4.000 pessoas, com 500 tratores, manifestaram-se nas ruas do centro da cidade, num protesto previamente autorizado e legal.
Centenas de agricultores manifestaram-se também noutras cidades espanholas, convocadas nestes casos pelas três confederações agrícolas que são interlocutoras do Governo (Asaja - Associação Agrária Jovens Agricultores, UPA - União de Pequenos Agricultores e Ganadeiros e a Coordenadora de COAG - Organizações de Agricultores e Ganadeiros).
No sul do país, 2.000 tratores e outros veículos fizeram marchas lentas em redor de Múrcia e 400 entraram no centro da cidade. Em Málaga, manifestaram-se cerca de mil pessoas a pé, acompanhadas por perto de 90 tratores, segundo a polícia.
Em Cáceres, na Extremadura (oeste, na fronteira com Portugal), saíram à rua cerca de 100 veículos agrícolas e 600 pessoas.
Houve ainda, entre outras, manifestações em Leão (noroeste) e Saragoça (nordeste), onde uma autoestrada chegou a ser cortada.
Os agricultores espanhóis, como está a acontecer noutros países da União Europeia (UE), estão a manifestar-se desde 06 de fevereiro, convocados pelas associações de agricultores, mas também de forma informal nas redes sociais.
Segundo o Ministério da Administração Interna, 52 pessoas foram detidas e 9.080 foram identificadas nas manifestações desde 06 de fevereiro.
Uma das detenções ocorreu hoje em Madrid, onde houve momentos de tensão entre polícia e manifestantes que tentaram romper cordões de segurança. A polícia chegou a carregar sobre manifestantes isolados.
Com coletes amarelos refletores, chocalhos, apitos, vuvuzelas, bandeiras de Espanha e de diversas regiões autónomas, os agricultores criticaram em Madrid "a asfixia" dos regulamentos europeus e aquilo que consideram ser a passividade do Governo espanhol perante a burocracia e regras a que estão sujeitos.
"Amnistia para o campo, não burocracia", "Não somos a Espanha esvaziada, somos a Espanha abandonada", lia-se em alguns dos cartazes e faixas empunhados pelos agricultores ou colocados nos tratores.
Tratores e manifestantes a pé concentraram-se na Porta de Alcalá, no centro da cidade e um dos símbolos de Madrid. Parte dos tratores (cerca de 50) e os manifestantes a pé seguiram depois até ao Ministério da Agricultura, na rotunda de Atocha.
O ministro da Agricultura, Luis Planas, disse hoje que o Governo respeita o direito à manifestação dos agricultores.
Na semana passada, o executivo apresentou um pacote de 18 medidas para responder a reivindicações dos agricultores, mas as três maiores confederações decidiram manter os protestos, apesar de reconhecerem "avanços importantes".
Já Luis Cortés, o coordenador da UDU considerou hoje que os anúncios da semana passada são "um engano" e disse que os agricultores estão "cansados das mentiras do ministro e das outras confederações agrícolas".
O ministro Luis Planas reconheceu que as 18 medidas anunciadas pelo Governo são, em boa parte, competência da UE e, por isso, o compromisso é propô-las e defendê-las em Bruxelas.
Entre essas propostas estão várias para flexibilização de regras da Política Agrícola Comum (PAC), a simplificação de procedimentos e diminuição de burocracia e mais exigências para produtos importados do exterior da UE, as designadas "cláusulas espelho" (impor às importações as mesmas regras de produção impostas dentro dos Estados-membros).
Espanha é o primeiro exportador da UE de frutas e legumes.
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