A junta esmaga todas as formas de dissidência com "uma crueldade insuportável" e com total impunidade, acusou Volker Türk, apelando ao Conselho de Direitos Humanos da ONU para agir, e aos países de todo o mundo para tentarem evitar novas atrocidades.
"A situação dos direitos humanos na Birmânia [antigo nome do país, hoje Myanmar] tornou-se um pesadelo sem fim, longe do olhar da política mundial", alertou.
"O conflito armado está a piorar e já se espalhou por quase todo o país. Três anos de regime militar infligiram, e continuam a infligir, níveis insuportáveis de sofrimento e crueldade aos residentes" em Myanmar, acrescentou.
A junta reprime a menor oposição "com um total abuso de poder", enquanto a situação económica piora continuamente, apontou ainda.
A junta militar chegou ao poder em fevereiro de 2021 através de um golpe de Estado que derrubou o Governo democraticamente eleito de Aung San Suu Kyi, pondo fim a um período de 10 anos de democracia e mergulhando o país na violência.
Além de ativistas pró-democracia, a junta também combate vários grupos armados étnicos.
De acordo com fontes locais, mais de 4.600 civis, incluindo mais de mil mulheres e crianças, foram mortos pelo exército desde fevereiro de 2021, observou Türk, acrescentando que "o número real é, muito provavelmente, bastante mais elevado".
De acordo com as mesmas fontes, referiu o alto-comissário, cerca de 400 civis, incluindo 113 mulheres, foram queimados vivos ou após serem executados.
A violência intensificou-se desde outubro passado, quando grupos étnicos armados lançaram uma série de ataques coordenados, aos quais o exército respondeu com força, não hesitando em bombardear vilas e cidades.
"Durante três anos, as pessoas sacrificaram tudo para manter a esperança num futuro melhor", disse Türk, sublinhando que a população "precisa do apoio de toda a comunidade internacional".
Além do número crescente de mortos, a quantidade de pessoas que teve de deixar as suas casas por causa da repressão preocupa as Nações Unidas: cerca de 1,5 milhões permanecem deslocadas dentro do país e quase um milhão tiveram de deixar Myanmar nos últimos anos.
A este número somam-se os milhões de muçulmanos da etnia rohingya que fugiram do país nas últimas décadas devido à perseguição de que são alvo.
As Nações Unidas referiram ainda que há muitas infraestruturas danificadas, dando como exemplo os mais de 35.000 edifícios públicos, hospitais, escolas e locais de culto que foram incendiados.
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