Na conferência imprensa que se seguiu a um encontro dos dois líderes, Zelensky expressou gratidão ao seu homólogo turco, referindo que, desde o início da invasão russa, em fevereiro de 2022, Ancara reconheceu a integridade territorial da Ucrânia, incluindo a península da Crimeia, anexada por Moscovo em 2014.
"Qualquer proposta de resolução desta guerra deve partir da fórmula proposta pelo país que defende o seu território e o seu povo", afirmou, acrescentando: "Queremos uma paz justa".
A Ucrânia estabeleceu a retirada das tropas russas do seu território como pré-condição para negociações com Moscovo.
A Turquia ofereceu-se para acolher uma cimeira de paz entre Rússia e Ucrânia, disse hoje o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, após ter recebido em Istambul o seu homólogo ucraniano.
"Estamos prontos para acolher uma cimeira de paz na qual a Rússia participará", declarou o chefe de Estado, em conferência de imprensa ao lado do Presidente ucraniano.
Erdogan reiterou o seu "apoio à soberania e integridade territorial do aliado estratégico, a Ucrânia".
"Ao mesmo tempo que mantemos a nossa solidariedade com a Ucrânia, continuaremos a trabalhar para acabar com a guerra e a favor de uma paz justa e negociada", afirmou.
Nas suas declarações hoje, o Presidente ucraniano observou que a cimeira de paz que propôs em janeiro passado, que deverá realizar-se em breve na Suíça, não deverá contar com representantes da Rússia, mas admitiu essa possibilidade numa reunião posterior.
Além disso, Zelensky disse ter transmitido uma lista de cidadãos ucranianos, em particular tártaros da Crimeia, que são "reprimidos pela Rússia nos territórios ocupados e detidos em prisões e campos russos em condições extremamente cruéis e desumanas".
O Presidente ucraniano destacou a mediação turca na iniciativa internacional dos cereais, que vigorou entre julho de 2022 e julho de 2023, para exportar produtos de três portos ucranianos e manifestou confiança de que Erdogan possa obter a renovação deste pacto por parte da Rússia.
"É de grande importância tanto para os nossos agricultores como para a segurança alimentar global", assinalou.
O Presidente ucraniano defendeu a extensão de um acordo deste tipo ao porto de Mykolaiv, situado a meio caminho entre Odessa e Kherson, no sul do país, o que criaria "milhares de empregos".
Erdogan declarou-se, por seu lado, disposto a fazer todo o possível para reativar o entendimento que, em 2022, envolveu os dois lados beligerantes, com o patrocínio de Ancara e das Nações Unidas.
O líder turco lembrou que o primeiro acordo foi assinado precisamente no mesmo palácio Dolmabahçe, nas margens do Bósforo, onde hoje decorreu a reunião dos dois presidentes.
Outra questão abordada pelos dois políticos foi a possibilidade de ser negociada uma nova troca de prisioneiros de guerra, que Erdogan prometeu promover, bem como o destino da população tártara da Crimeia.
Erdogan sublinhou a importância dos tártaros da Crimeia para o seu país, lembrando que são "irmãos étnicos" do povo turco e prometeu tentar aliviar a sua situação.
O Presidente turco também se pronunciou a favor do apoio à integração da Ucrânia nas estruturas euro-atlânticas.
Durante a reunião, Erdogan e Zelensky assinaram um acordo para promover o livre comércio entre os dois países, estabelecendo a meta de atingir um volume de 10 mil milhões de dólares (9,1 mil milhões de euros), e concordaram em reforçar a cooperação bilateral na indústria de defesa.
Antes de se reunir com Erdogan, Zelensky visitou hoje os estaleiros de Tuzla, nos arredores de Istambul, onde estão a ser construídas duas corvetas para a frota ucraniana, uma das quais já está perto de ser concluída para entrega este ano.
Seguiu-se o encontro com Erdogan, uma semana depois da visita à Turquia do ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, que conversou com o seu homólogo turco, num fórum diplomático em Antalya.
O Presidente russo, Vladimir Putin, também deverá visitar a Turquia em data ainda não definida.
Os laços entre a Turquia e a Rússia suscitaram tensões no Ocidente, que acusam Ancara de facilitar a evasão das sanções por parte de Moscovo, exportando certos produtos para a Rússia.
Os Estados Unidos sancionaram várias empresas turcas por ajudarem Moscovo a comprar bens que poderiam ser utilizados pelas suas forças armadas.
Apesar das dificuldades no terreno, a Ucrânia tem recusado negociações com a Rússia, alegando falta de credibilidade dos interlocutores de Moscovo e insistindo que jamais fará concessões territoriais.
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