"O serviço da dívida a China é uma matéria que tem influenciado negativamente a gestão orçamental do país e creio que deve ser a principal razão ou o motivo mais premente dessa ida do Presidente, João Lourenço", disse Alves da Rocha.
Para o economista, a renegociação da dívida deve centralizar o encontro entre João Lourenço e Xi Jinping e justifica-se para "que o Governo tenha maior capacidade de manobra, atendendo às tremendas necessidades financeiras do país".
"Não creio, e posso estar enganado, que na agenda constem negociações de Angola poder vir fazer parte ou poder estar no círculo, ainda que afastada do centro, de entrada nos BRICS [grupo de países de mercado de emergente -- Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul] alargado", referiu.
O Presidente de Angola inicia sexta-feira uma visita oficial de três dias à China para "abordar a estratégia futura das relações bilaterais", anunciou em comunicado a Presidência angolana.
Angola continua a destinar grande parte do serviço da dívida pública externa para pagar à China, o maior credor do país. A dívida deriva do processo de reabilitação de Angola após o conflito armado terminado em 2002 e é garantida pela exportação do petróleo.
Alves da Rocha entende, por outro lado, que João Lourenço e Xi Jinping deverão aproveitar a ocasião para alargar a cooperação bilateral e definir novos setores de cooperação entre Luanda e Beijing, considerando que algumas posições de Angola causaram "alguns irritantes" à China.
De acordo com o economista angolano, desde que o Presidente angolano chegou ao poder tem tomado algumas posições que "ferem" a China, como a aproximação do país africano aos Estados Unidos e a saída do gigante asiático de alguns investimentos em Angola.
"Não sei se agora a delegação angolana conseguirá desfazer alguns equívocos e alguns irritantes que são visíveis na parte da China, que ficou chateada com Angola, aliás, daí a demora na nomeação do novo embaixador da China", realçou.
"Equívocos como a questão do Corredor do Lobito [cuja gestão foi entregue a um consórcio europeu e conta com financiamento norte-americano], a questão dos demais empreendimentos em que a China esteve envolvida, devo dizer que isso é uma opção estratégica de Angola", frisou.
O também diretor do Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade Católica de Angola disse também que há cerca de dez anos que está a ocorrer o que denomina de "desoncidentalização" do desenvolvimento económico mundial e "é altura de Angola ter já uma posição clara sobre a sua posição na geoestratégia mundial".
E considerou que o crescimento e o desenvolvimento económico estarão cada vez mais voltados para Oriente e defendeu a necessidade de o MPLA (partido no poder) e o Governo terem uma posição, diante dos posicionamentos mundiais dos EUA e da China, "muito diferenciados e noutros casos até antagónicos", disse.
Alves da Rocha alertou que os acordos entre Angola e EUA poderão estar "beliscados", se Donald Trump garantir o regresso à Casa Branca: "Não sei o que pode vir a acontecer com estes acordos que Angola assinou com os EUA com o Corredor do Lobito, para a fábrica de alumínio, para energia solar", concluiu.
No primeiro dia da visita, João Lourenço encontra-se com Xi Jinping, tendo ainda agendados encontros com o primeiro-ministro chinês, Li Qiang, e com o presidente da Assembleia Nacional Popular (parlamento), Zhao Leji.
Está agendado um fórum de negócios China-Angola e a assinatura de um Memorando de Entendimento Estratégico entre o Instituto Geológico de Angola e o Gabinete de Geologia e Recursos Minerais de Jiangxi.
No evento pretende-se apresentar o potencial geológico-mineiro, as oportunidades de investimentos, a legislação que rege a atividade, bem como os projetos existentes que exigem investimento ou parcerias financeiras.
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