"Não partilho a visão de que a Europa está efetivamente ameaçada pela imigração, o que não significa que eu não considere que não tenhamos de ter melhores condições de imigração, mas centrar-me neste tipo de medo de que a Europa está inundada, que defende o PPE [Partido Popular Europeu] aproximando-se da extrema-direita, não é essa a nossa visão", disse Nicolas Schmit, em entrevista à agência Lusa em Bruxelas.
Dias após ter sido nomeado candidato principal ('Spitzenkandidat') do Partido dos Socialistas Europeus (PES, na sigla inglesa) às eleições europeias de 06 a 09 de junho, concorrendo contra a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que é a representante do PPE ao sufrágio, o também comissário europeu do Emprego e Direitos Sociais indicou à Lusa que a União Europeia (UE) tem de "controlar melhor as fronteiras, mas respeitando os valores" europeus, bem como "acelerar os procedimentos, que são obviamente demasiado longos e complexos".
"Quando as pessoas não podem ficar [na UE por não preencherem requisitos para asilo], têm de ser levadas de volta, mas eu não gostaria de envolver países terceiros, como o Ruanda ou outros, nesta questão", comparou Nicolas Schmit, numa alusão ao manifesto eleitoral do PPE.
"As pessoas do PPE falam dos valores cristãos, (...) mas eu pergunto-lhes onde estão esses valores cristãos quando se equaciona pegar nas pessoas e levá-las para Ruanda ou para qualquer outro país [terceiro] seguro porque não se tem coragem de lidar com elas", questionou.
Aos 70 anos, o luxemburguês Nicolas Schmit foi nomeado no início deste mês de março 'Spitzenkandidat' dos socialistas europeus às eleições de junho próximo.
Há uma semana, Ursula von der Leyen também foi nomeada candidata principal do PPE, para tentar uma reeleição à frente da instituição.
O manifesto eleitoral do PPE para as eleições europeias defende acordos com "países terceiros seguros" para transferência de requerentes de asilo, bem como a fixação de "quotas humanitárias anuais de pessoas vulneráveis" na UE, enquanto o do PES fala num "reforço das fronteiras externas da União" para garantir que são "geridas e controladas de forma eficaz", através de um "sistema comum e coordenado de migração e de asilo baseado na solidariedade e na responsabilidade partilhada".
De acordo com Nicolas Schmit, ao contrário de Ursula von der Leyen, a sua candidatura representa "um projeto que tem a ver com a Europa social e com a continuação clara do Pacto Ecológico".
"Penso que há uma grande diferenciação", adiantou à Lusa em Bruxelas.
Neste mandato enquanto comissário europeu do Emprego e dos Direitos Sociais, Nicolas Schmit avançou com importantes dossiês, como regras comuns para salários mínimos na UE e as primeiras normas para assegurar proteção laboral para os trabalhadores das plataformas digitais.
Atualmente, o Parlamento Europeu é composto por sete grupos políticos, sendo o PPE o maior deles, seguido pela Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas (S&D), a bancada do PES.
A figura dos candidatos principais -- no termo alemão 'Spitzenkandidat' -- surgiu nas eleições europeias de 2014, com os maiores partidos europeus a apresentarem as suas escolhas para futuro presidente da Comissão Europeia.
De seguida, em 2019, tentou-se aplicar novamente este modelo, mas por desacordo entre os grupos políticos estes candidatos principais não ocuparam os altos cargos europeus.
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