"A UNRWA (Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinianos) não pode desempenhar nenhum papel na Faixa de Gaza, quebrou toda a sua neutralidade", e deve encontrar-se um "substituto", sustentou hoje o porta-voz da embaixada de Israel em Madrid, Tal Itzhakov, citado pela agência de notícias espanhola EFE.
Numa videoconferência com jornalistas, o porta-voz mencionou uma atualização do relatório de Israel sobre esta matéria, com informação e documentos obtidos pelos serviços secretos israelitas em Gaza sobre "a infraestrutura terrorista".
Itzhakov, que nomeou um desses "terroristas" identificados, indicou que há "2.135 membros do Hamas e da Jihad Islâmica" a trabalhar na UNRWA na Faixa de Gaza. Mais precisamente, 485 são "membros do braço militar das organizações terroristas" e 1.650 do movimento Hamas.
Comentou também que 18 diretores de escolas da agência da ONU são "membros militares de organizações terroristas em Gaza", segundo a nova informação, que inclui dados de trabalhadores da UNRWA que são alegados membros do Hamas.
O relatório denuncia "a utilização" de instalações da UNRWA para atividades terroristas, com pontos de lançamento de 'rockets', túneis, poços e armazéns, dos quais apresenta fotografias e desenhos. O Hamas utiliza esses locais "de propósito", afirmou o porta-voz israelita.
Todos estes dados, segundo Itzhakov, permitem saber "que parte da infraestrutura terrorista está incorporada dentro de organismos da UNRWA".
Por tudo isto, Israel está a "apelar a todos os Estados do mundo para que suspendam as contribuições destinadas à UNRWA", como fizeram já 18 países, entre os quais os Estados Unidos, o Japão, a Alemanha e França.
Por seu lado, Espanha aprovou recentemente mais 20 milhões de euros para o "trabalho humanitário essencial da UNRWA em Gaza".
Na quinta-feira, Portugal anunciou um reforço de 10 milhões de euros no financiamento à UNRWA, apoio que foi saudado entretanto pelo líder da agência da ONU, Philippe Lazzarini.
O porta-voz da representação diplomática israelita em Madrid indicou que Israel transmitiu às autoridades espanholas a informação de que dispõe sobre a UNRWA e que os dois países mantêm "um diálogo aberto".
"Queremos expandir e assegurar a ajuda humanitária em Gaza, mas não através da UNRWA", através de outras organizações como o Programa Alimentar Mundial (PAM) ou da organização não-governamental (ONG) World Central Kitchen, dirigida pelo chef espanhol José Andrés, insistiu.
Recordou que Israel está a cooperar com duas comissões internacionais para o esclarecimento da intervenção de membros da UNRWA no massacre de 07 de outubro.
Sobre um eventual cessar-fogo em Gaza, acusou o Hamas de fazer "tudo" para que não haja acordo e por "aumentar" o número de vítimas palestinianas "utilizando a população civil" para "pressionar" a comunidade internacional.
"Temos 134 reféns em Gaza que têm de ser libertados", o que é uma "prioridade do país", sublinhou o porta-voz, condenando o tratamento a que estão a ser sujeitos e as "violações sistemáticas em Gaza", segundo os reféns libertados.
"A ideia de Israel não é conquistar Gaza", mas sim eliminar a "ameaça do Hamas e libertar os nossos reféns", frisou.
E não se consegue cumprir os objetivos da guerra e do desmantelamento do Hamas sem essa parte, a de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, onde há quatro batalhões do Hamas e "muito mais infraestruturas terroristas", argumentou, e ter ao mesmo tempo em conta como de lá retirar os civis e dar resposta à questão humanitária.
A 07 de outubro do ano passado, combatentes do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) -- desde 2007 no poder na Faixa de Gaza e classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos, a União Europeia e Israel -- realizaram em território israelita um ataque de proporções sem precedentes desde a criação do Estado de Israel, em 1948, fazendo 1.163 mortos, na maioria civis, e 250 reféns, cerca de 130 dos quais permanecem em cativeiro e 32 terão entretanto morrido, segundo o mais recente balanço das autoridades israelitas.
Em retaliação, Israel declarou uma guerra para "erradicar" o Hamas, que começou por cortes ao abastecimento de comida, água, eletricidade e combustível na Faixa de Gaza e bombardeamentos diários, seguidos de uma ofensiva terrestre ao norte do território, que depois se estendeu ao sul, estando agora iminente uma ofensiva à cidade meridional de Rafah, onde se concentra mais de um milhão de deslocados.
A guerra entre Israel e o Hamas, que hoje entrou no 168.º dia e continua a ameaçar alastrar a toda a região do Médio Oriente, fez até agora na Faixa de Gaza mais de 32.000, mais de 72.000 feridos e cerca de 7.000 desaparecidos presumivelmente soterrados nos escombros, na maioria civis, de acordo com o último balanço das autoridades locais.
O conflito fez também quase dois milhões de deslocados, mergulhando o enclave palestiniano sobrepovoado e pobre numa grave crise humanitária, com mais de 1,1 milhões de pessoas numa "situação de fome catastrófica" que já está a fazer vítimas - "o número mais elevado alguma vez registado" pela ONU em estudos sobre segurança alimentar no mundo.
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