A comparência em tribunal ocorreu na noite de um dia de luto na Rússia, na sequência do massacre de sexta-feira, o mais mortífero ataque em solo europeu reivindicado pelo grupo jihadista Estado Islâmico (EI) e que provocou também 182 feridos, 101 deles ainda hospitalizados.
Os quatro homens detidos e acusados de "terrorismo", podem ser condenados a prisão perpétua, segundo o tribunal de Basmanny, em Moscovo. A detenção, prevista até 22 de maio, poderá ser prolongada até ao julgamento, cuja data ainda não foi fixada.
No total, as autoridades russas comunicaram a detenção de onze pessoas, incluindo quatro agressores, relacionadas com o atentado.
No domingo, os investigadores continuaram a vasculhar os escombros do edifício, que foi devastado por um enorme incêndio iniciado pelos atacantes.
Vladimir Putin, que falou uma vez no sábado, quase 24 horas após os acontecimentos, não fez qualquer nova declaração, mas acendeu uma vela na capela da sua residência perto de Moscovo, segundo o seu porta-voz, citado pelas agências noticiosas estatais russas.
A polícia também encontrou cerca de 500 balas, duas espingardas de assalto Kalashnikov e 28 carregadores no local da tragédia, afirmando que pertenciam "aos assaltantes".
O tribunal difundiu imagens que mostravam três suspeitos levados para a sala de audiências algemados e dobrados ao meio por agentes da polícia, depois sentados na jaula de vidro reservada aos arguidos. O quarto suspeito chegou numa cadeira de rodas, com os olhos fechados.
Um dos suspeitos tinha uma ligadura branca na orelha, como nos vídeos anteriores da detenção dos alegados agressores divulgados no sábado pelos investigadores, em que três deles apareciam com sangue no rosto.
Segundo o tribunal, dois dos arguidos declararam-se culpados. Um deles, natural do Tajiquistão, "admitiu plenamente a sua culpa".
As autoridades tinham anteriormente indicado que os suspeitos eram "cidadãos estrangeiros", sem mencionar a sua nacionalidade. O Tajiquistão é uma antiga república soviética da Ásia Central de maioria muçulmana.
O Comité de Investigação, à semelhança de Putin, ainda não mencionou a reivindicação feita sexta-feira pelo grupo Estado Islâmico.
Também não disse nada no domingo sobre a Ucrânia, apesar de Vladimir Putin e os seus serviços especiais (FSB) terem levantado essa hipótese porque, segundo eles, os presumíveis assassinos estavam a tentar chegar ao território ucraniano.
Este foi o ataque mais mortífero na Rússia desde há cerca de 20 anos e o mais sangrento reivindicado pelo EI na Europa. O grupo jihadista, contra o qual a Rússia luta na Síria e que está ativo no Cáucaso russo, já realizou anteriormente ataques de menor escala no país desde o final da década de 2010.
Adrienne Watson, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, afirmou no domingo que o EI era "o único responsável por este ataque. Não houve qualquer envolvimento ucraniano".
O ministro das Finanças britânico, Jeremy Hunt, também lançou dúvidas sobre a versão de Putin, afirmando ter "muito pouca confiança" na palavra das autoridades russas.
No domingo, o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmytro Kouleba, afirmou que o Presidente russo "é um mentiroso patológico".
"Está agora a tentar ligar a Ucrânia ou os países ocidentais ao massacre de Moscovo, sem qualquer prova. [...] O seu objetivo é motivar os russos a morrer na sua guerra criminosa e sem sentido contra a Ucrânia", acrescentou.
Alguns dias antes do ataque, Putin classificou como uma "provocação" os avisos norte-americanos de que estava a ser preparado um ataque terrorista na Rússia.
Segundo o grupo Site, especializado em investigação antiterrorista, um vídeo aparentemente filmado pelos atacantes foi divulgado em contas de redes sociais habitualmente utilizadas pelo EI.
O vídeo mostra vários indivíduos com rostos desfocados, armados com espingardas de assalto e facas, no que parece ser a sala de espetáculos Crocus City Hall, em que são disparadas várias rajadas de tiros, vistos muitos corpos inertes no chão e o início de um incêndio.
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