Num debate de nível ministerial do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) sobre a situação no Médio Oriente, com foco em Gaza, Guterres fez um balanço dos seis meses e meio de operações militares israelitas no enclave, sublinhando que dois milhões de palestinianos "suportaram a morte, a destruição e a negação de ajuda humanitária vital" e que agora estão a enfrentar a fome.
"Tudo isto aconteceu com severas limitações impostas pelas autoridades israelitas à entrega de ajuda humanitária às pessoas em Gaza, que enfrentam fome generalizada", afirmou.
Guterres reconheceu que Israel assumiu recentemente uma série de compromissos para melhorar a prestação de ajuda, e que "houve alguns exemplos de progressos limitados", mas avaliou que o "progresso aparente numa área é muitas vezes anulado por atrasos e restrições noutras áreas".
"Por exemplo, embora as autoridades israelitas tenham autorizado mais caravanas de ajuda, essas autorizações são frequentemente concedidas quando já é demasiado tarde para fazer entregas e regressar em segurança. O nosso pessoal não pode operar na escuridão, numa zona de guerra repleta de munições não detonadas", reforçou.
Outro exemplo apresentado pelo secretário-geral foi o facto de que, durante a semana de 06 a 12 de abril, Israel negou mais de 40% dos pedidos da ONU para entrega de ajuda humanitária que exigiam a passagem pelos postos de controlo israelitas.
"Portanto, o impacto é limitado e às vezes nulo. As autorizações aumentam, mas continuam a existir obstáculos à ajuda às pessoas que necessitam desesperadamente", acrescentou Guterres.
De acordo com o líder da ONU, é necessário "um salto quântico na ajuda humanitária aos palestinianos em Gaza".
Numa visão mais ampla, Guterres considerou que o Médio Oriente está à beira do "precipício" de um conflito regional generalizado.
"Um erro de cálculo, uma falha de comunicação, poderia levar ao impensável -- um conflito regional em grande escala que seria devastador para todos os envolvidos -- e para o resto do mundo", alertou.
Referindo também a troca de ataques entre Israel e o Irão, o ex-primeiro-ministro português reiterou que "já é tempo de acabar com o ciclo sangrento de retaliação" e defendeu que a forma de retirar a região do precipício e da desescalada no Médio Oriente é avançar com uma ação diplomática abrangente, "a começar por Gaza".
Guterres defendeu também a inversão da "situação explosiva" na Cisjordânia ocupada, onde "mais de 450 palestinianos, incluindo 112 crianças, foram mortos" desde que a guerra entre Israel e o grupo islamita Hamas eclodiu, em 07 de outubro passado - "a maioria morta pelas forças israelitas no decurso das suas operações e em confrontos com palestinianos armados", disse.
"Apelo a Israel, enquanto potência ocupante, para que proteja a população palestiniana da Cisjordânia ocupada contra ataques, violência e intimidação", exortou, salientando que a expansão dos colonatos israelitas poderá "minar a contiguidade de um futuro Estado palestiniano e negar a esperança a uma geração de palestinianos".
[Notícia atualizada às 16h13]
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