Depois de séculos sob domínio de Dinamarca, Suécia e até Rússia, em 24 de fevereiro de 1918 a Estónia apresentou a sua declaração de independência, mas a Segunda Guerra Mundial coartou a soberania deste país do Báltico, primeiro com a invasão da União Soviética, em 1940, a ocupação da Alemanha Nazi um ano mais tarde e a reocupação por parte de Moscovo em 1944.
A Cortina de Ferro ergueu-se e assim ficou até 1991, quando a dissolução do bloco soviético abriu caminho para a reconquista da independência. Quebrar com um passado de perda de soberania impunha-se, por isso a Estónia iniciou o caminho para aderir à União Europeia e fazer parte do último grande alargamento do bloco comunitário.
Em setembro de 2000 o Fundo Monetário Internacional (FMI) deu conta de que a Estónia "tinha como prioridade a integração na UE" e que estava a fazer uma "rápida transição para uma economia de mercado e integração na economia mundial".
Para isso contribuiu, de acordo com o FMI, um Acordo de Associação de 1998, que estabeleceu um diálogo permanente entre a Comissão Europeia de Jacques Santer e Tallinn.
O FMI chegou a fazer um paralelismo com Portugal, Espanha e a Irlanda para descrever a relação entre os custos e benefícios da adesão da Estónia à UE, notando que os três países registaram "um crescimento rápido" depois de integrarem o bloco comunitário e que o mesmo era expectável para o país do Báltico.
Mas havia um obstáculo difícil de ultrapassar: décadas de corrupção e dependência de Moscovo, fruto da ocupação soviética.
"Não havia outra maneira, tínhamos de fazer as reformas que tinham pedido antes de integrarmos a União Europeia", sustentou a primeira-ministra da Estónia, Kaja Kallas, em entrevista à agência Lusa.
A primeira-ministra reforçou que era do interesse do país "acabar com a corrupção": "Os investidores confiam na nossa economia quando confiam no Estado de direito".
"Foi difícil para nós, na década de 1990... Quando estávamos sob ocupação, a União Soviética normalizou a corrupção. Era 'ok' roubar do Estado, já que o Estado era ocupante. De certa maneira, prejudicávamos o regime roubando o regime. Quando alcançámos a nossa liberdade, de repente deixou de ser 'ok' roubar do Estado. Era nosso! Por isso é que hoje somos um dos países que mais luta contra a corrupção", sustentou.
As negociações para a adesão decorreram entre 1998 e 2002.
De acordo com um relatório do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Estónia, de 2009, também foi importante explicar à União Europeia os benefícios da integração da Estónia.
Ethel Halliste, secretária de imprensa do Ministério dos Negócios Estrangeiros entre 1997 e 1999 e secretária de imprensa da missão da Estónia para a UE entre 1999 e 2003, descreveu um processo que implicava informar a população estónia e outras partes interessadas no estrangeiro de todas as etapas do processo, "apresentando o país e criando uma imagem positiva entre os Estados-membros da UE".
Internamente, o Governo, ainda a atravessar um processo de transição democrática que precisava de consolidação, ficou responsável por insistir na vontade de fazer parte da UE.
Seguiram-se uma série de eventos em universidades e grupos de reflexão, com jornalistas convidados, para implantar a ideia de que o país estava pronto para aderir à União, revelou Ethel Halliste.
Concretizada a adesão, a Estónia procurou uma maneira de quebrar com o estigma que persistia por ser um dos países mais periféricos.
Praticamente 20 anos depois de aderir, a Estónia destaca-se no mapa dos 27 por ser o país no mundo com mais startups "unicórnio" (as que estão avaliadas em mais de mil milhões de euros) 'per capita'.
Para esta conquista contribuíram a população pequena (cerca de 1,3 milhões de pessoas), um grande desenvolvimento tecnológico e incentivos à inovação, a par de um ambiente propício para empresas que queiram fixar-se no país.
A proximidade à Rússia - são pouco mais de 200 quilómetros até à fronteira - também levou o país a continuar a investir na área da defesa.
Em 2023, a Estónia investiu 2,96% do seu produto interno bruto (PIB) em defesa, bem acima dos 2% de mínimo exigido pela Organização do Tratado do Atlântico Norte e é o quarto país que mais investe nesta área no conjunto dos 32 países da aliança político-militar, à qual se juntou também em 2004.
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