Os caças dos EUA lançaram cinco bombas no complexo da embaixada chinesa na capital sérvia em 07 de maio de 1999, ataque que causou um incêndio e três mortos entre cidadãos chineses. Outras vinte pessoas ficaram feridas.
Xi Jinping referiu-se ao atentado num artigo de opinião publicado hoje no jornal sérvio Politika, realçando que o "bombardeamento descarado" da NATO não deve ser esquecido, segundo traduções veiculadas pelos meios de comunicação estatais chineses e citadas pela agência Associated Press (AP).
"O povo chinês valoriza a paz, mas nunca permitirá que tragédias históricas aconteçam novamente", acrescentou Xi.
A aliança militar ocidental lançou a guerra aérea em março desse ano para forçar o então homem forte sérvio Slobodan Milosevic a pôr fim a um ataque brutal contra os rebeldes de etnia albanesa no Kosovo.
Os EUA pediram desculpas na altura e referiram que o atentado à bomba na embaixada foi um erro que aconteceu devido a falhas dos serviços secretos.
O alvo pretendido, de acordo com Washington, era a sede de um exportador de armas estatal sérvio, localizada na mesma rua, a poucos quarteirões de distância.
"Imagine que alguém, mesmo que por acidente, atacasse uma embaixada americana em algum lugar do mundo. A reação seria imediata", realçou Sven Biscop, professor de política externa e de segurança europeia na Universidade de Ghent e no Instituto Egmont.
Manifestantes furiosos na China invadiram as instalações diplomáticas dos EUA enquanto o bombardeamento alimentava sentimentos antiamericanos e especulações de que o ataque foi intencional e não acidental. A desconfiança em relação ao incidente perdura até hoje.
Ao mesmo tempo que prejudicou as relações de Pequim com os EUA, o bombardeamento da embaixada aproximou a China e a Sérvia. A China emergiu como o maior fornecedor de investimento direto estrangeiro da Sérvia e o seu segundo maior parceiro comercial depois da União Europeia (UE).
Pequim opôs-se à campanha de bombardeamentos da NATO e desde então apoiou a tentativa de Belgrado de contrariar o impulso apoiado pelo Ocidente para a independência do Kosovo, uma antiga província sérvia.
Em troca, a Sérvia tem sido um aliado leal de Pequim e abriu as suas portas sem restrições a milhares de milhões de dólares de investimento chinês, mesmo quando procura formalmente a adesão à UE.
"A amizade forjada com sangue entre os povos da China e da Sérvia tornou-se a memória comum dos dois povos e inspirará ambos os lados a avançarem juntos", destacou Xi, que deseja "um novo capítulo no desenvolvimento e revitalização nacional e construir uma comunidade China-Sérvia com um futuro partilhado para a humanidade na nova era".
Os sinais de sentimentos pró-China são hoje claramente visíveis, quando Xi chega à Sérvia. Em Belgrado, uma enorme bandeira chinesa foi colocada num arranha-céu ao longo de uma estrada que liga o aeroporto à cidade. Bandeiras menores da China e da Sérvia podem ser vistas no centro da cidade e ao longo de uma autoestrada.
Os jatos MiG-29 da Força Aérea da Sérvia escoltaram o avião presidencial de Xi até o aeroporto de Belgrado.
Xi chegou desde França e mais tarde viajará para a Hungria como parte de sua primeira viagem à Europa em cinco anos.
O chefe de Estado chinês deve visitar o local da antiga embaixada e prestar homenagem às vítimas do ataque.
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