O Partido Socialista venceu as eleições autonómicas de domingo na Catalunha e, embora não tenha conseguido uma maioria absoluta, ambiciona voltar ao governo da região, que tem há 14 anos consecutivos executivos separatistas.
"Os catalães decidiram que cabe ao PSC [Partido Socialista da Catalunha] liderar esta nova etapa", afirmou o líder dos socialistas catalães, Salvador Illa, no domingo à noite.
Illa disse que pretende ser o próximo presidente do governo regional (Generalitat) e que se vai submeter à sessão de investidura no parlamento autonómico, mas não revelou se e com quem pretende negociar a viabilização do executivo.
Os socialistas elegeram 42 deputados (mais nove do que nas eleições anteriores) e são necessários 68 para a maioria absoluta.
A par da vitória do PSC, os partidos independentistas perderam no domingo a maioria absoluta que há 14 anos tinham no parlamento da Catalunha e com a qual, através de uma "frente separatista" que unia direita e esquerda, foram viabilizando sucessivos executivos.
Nestes 14 anos, a Catalunha passou por um processo independentista que culminou com uma tentativa de autodeterminação em 2017 protagonizada pelo então presidente regional Carles Puigdemont, do partido Juntos pela Catalunha (JxCat), que foi o segundo mais votado no domingo e elegeu 35 deputados (mais três do que atualmente).
Apesar de não haver maioria absoluta independentista no novo parlamento, Puigdemont declarou estar pronto para formar um "governo sólido" e desafiou a também separatista Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) a refletir sobre "os efeitos da desunião".
Puigdemont, que vive fora de Espanha desde 2017 para escapar à justiça, disse na campanha que abandonará a política se não for reeleito presidente regional após estas eleições.
A ERC, que está à frente do atual governo regional, caiu para o terceiro lugar e perdeu 13 deputados (ficou com 20).
O dirigente da ERC e ainda presidente da Generalitat, Pere Aragonès, assumiu os "muito maus resultados" e disse que o partido passa à oposição. Apesar da derrota, a ERC pode ser determinante para a viabilização do governo que o socialista Salvador Illa quer liderar.
Illa admitiu durante a campanha governar com o apoio da ERC, partido que viabilizou todos os governos do primeiro-ministro de Espanha, o socialista Pedro Sánchez, com quem negociou indultos e uma amnistia para independentistas.
A ERC nunca se comprometeu com uma aliança com os socialistas na Catalunha, mas também nunca a excluiu, e Aragonès nada adiantou nas declarações que fez em Barcelona no domingo.
Illa precisaria ainda do apoio do Comuns Somar, plataforma de esquerda que faz parte do Somar, o partido que está na coligação do Governo de Espanha com o Partido Socialista Espanhol (PSOE).
A candidata do Comuns Somar, Jessica Albiach, que elegeu seis deputados, confirmou no domingo a disponibilidade para viabilizar um governo de Illa na Catalunha.
Os três partidos (PSC, ERC e Comuns Somar) elegeram precisamente os 68 deputados que garantem uma maioria absoluta no 'parlament'.
Quem entra e quem sai no 'parlament'?
Outra mudança que trouxeram estas eleições catalãs foi a entrada de um novo partido no 'parlament', a Aliança Catalã, independentista e de extrema-direita.
A Aliança Catalã elegeu dois deputados e a Catalunha passou a ter o único parlamento em Espanha com dois partidos de extrema-direita representados. O outro é o Vox, que manteve os 11 deputados que já tinha.
Em paralelo, o Cidadãos (direita liberal), que tinham seis deputados, desapareceu do parlamento catalão, depois de ter ganhado umas eleições autonómicas em 2017, as primeiras após a declaração unilateral de independência.
O desaparecimento do Cidadãos favoreceu o Partido Popular (PP, direita), que passou de três para 15 deputados e foi a formação que mais cresceu nestas eleições.
O presidente do Partido Popular da Catalunha, Alejandro Fernández, considerou que os catalães "deram por terminado o processo" separatista no domingo e pediu respeito pelo "mandato da sociedade".
Conseguiu ainda representação no 'parlament' a Candidatura de Unidade Popular (CUP), da esquerda independentista, que perdeu cinco deputados e passou a ficar com quatro.
Votaram nas eleições 57,94% dos eleitores, um aumento de 6,6 pontos em relação às autonómicas catalãs anteriores, que se realizaram em 2021, em pandemia de Covid-19.
A reação de Sánchez
O líder do PSOE, Pedro Sánchez, aplaudiu o "resultado histórico" dos socialistas nas eleições regionais da Catalunha, considerando que abre "uma nova etapa" para "melhorar a vida dos cidadãos" na região.
Numa mensagem publicada na rede X, o presidente do governo espanhol felicitou o líder do Partido Socialista da Catalunha (PSC), Salvador Illa, por "este histórico resultado conseguido na Catalunha".
Quando estavam contados 99% dos votos, os socialistas catalães tinham conquistado quase 870 mil votos e 42 deputados no 'parlament'.
"Os socialistas voltam a ser a primeira força. A partir de hoje, começa uma nova era na Catalunha para melhorar a vida dos cidadãos, alargar os direitos e reforçar a convivência", declarou Sánchez.
O líder socialista escreveu ainda, em catalão: "A Catalunha está preparada para concretizar um novo futuro e para viver um tempo de esperança".
Enhorabuena, @salvadorilla, por este histórico resultado conseguido en Catalunya.
— Pedro Sánchez (@sanchezcastejon) May 12, 2024
Los socialistas volvemos a ser la primera fuerza.
Desde hoy se abre una nueva etapa en Catalunya para mejorar la vida de la ciudadanía, ampliar derechos y reforzar la convivencia.
Quiero…
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