"A Rússia ofereceu-nos cooperação, apoio militar e o fornecimento de armas ao exército" em troca de "um ponto de abastecimento no Mar Vermelho", declarou o vice-comandante do exército, Yasser Atta, numa entrevista à estação de televisão privada saudita Al Hadath.
"Dissemos-lhes que poderíamos alargar esta cooperação militar a uma cooperação económica no domínio da agricultura, indústria, mineração e exploração de ouro, ou em portos", continuou Atta, que é também um membro proeminente do Conselho Soberano, o mais alto órgão governamental controlado pelas Forças Armadas do Sudão (SAF, na sigla em inglês).
Yasser Atta disse ainda que uma delegação militar sudanesa partirá dentro de alguns dias para Moscovo para assinar "um acordo", em relação ao qual não deu pormenores.
Em seguida, uma equipa ministerial deslocar-se-á também à Rússia para preparar a visita do presidente do Conselho Soberano do Sudão e chefe de Estado-Maior das SAF, general Abdel Fattah al-Burhan.
Cartum e Moscovo assinaram em dezembro de 2020 um acordo para a criação de uma base naval na costa sudanesa, no Mar Vermelho, a primeira da Rússia no continente africano.
O projeto não avançou ainda, primeiro devido a problemas internos resultantes do golpe de Estado de 2021, e depois por causa da guerra iniciada em 15 de abril de 2023 entre as SAF e as Forças de Apoio Rápido (RSF, igualmente na sigla inglesa) paramilitares, lideradas por outro general, Mohamed Hamdan Dagalo, conhecido como "Hemedti".
A base, cujo acordo tem uma vigência de 25 anos, permitirá à Rússia estacionar navios de propulsão atómica na costa do país africano; não poderá acolher mais de quatro navios de guerra em simultâneo; e terá uma capacidade máxima de 300 militares e operadores civis, segundo o documento do acordo.
"Pessoalmente, não me importo de dar uma base militar à Rússia, aos Estados Unidos, à Arábia Saudita ou ao Egito. Não há qualquer problema com isso, pelo contrário, os benefícios são trocados entre os povos (...). A costa do Mar Vermelho é ampla para acolher a Rússia, os Estados Unidos, o Egito ou a China, não sei qual é o problema", afirmou Yasser Atta.
Vários institutos de análise e organizações não-governamentais tornaram público o fornecimento de vários tipos de armas pela Rússia - principalmente drones - ao exército sudanês desde o início da guerra há um ano, mas também o apoio das RSF pelo grupo paramilitar russo Wagner, renomeado entretanto Africa Corps.
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