ACNUR denuncia inação do Conselho de Segurança face a crises no mundo

O líder do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR) denunciou hoje o crescente número de deslocados e refugiados em todo o mundo devido às guerras, ao mesmo tempo que criticou a inação do Conselho de Segurança.

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Lusa
30/05/2024 23:37 ‧ 30/05/2024 por Lusa

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ACNUR

Num 'briefing' perante os 15 Estados-membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU), Filippo Grandi, não poupou nas críticas ao órgão da ONU cujo mandato é zelar pela paz e segurança internacionais.

"É um cenário político sombrio o que vejo à nossa volta, do meu ponto de vista humanitário: decisões míopes de política externa, muitas vezes com duplicidade de critérios, com palavras ditas da boca para fora sobre o cumprimento da lei, mas com poucos esforços exercidos mesmo por parte deste Conselho para realmente defendê-lo", declarou Grandi.

"Vão perdoar-me por usar palavras fortes, mas é a frustração de um humanitário a falar aqui: No ano passado, convidei-vos a usar a vossa voz. Mas a cacofonia deste Conselho fez com que continuassem a presidir a uma cacofonia mais ampla de caos em todo o mundo", acrescentou, dirigindo-se ao Conselho de Segurança, que está em grande parte paralisado pelas divisões entre os seus membros permanentes (China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia).

As duras palavras do diplomata italiano seguiram-se a um 'briefing' em que expôs a pesada realidade enfrentada por refugiados e deslocados ao redor do mundo, frisando que o número de pessoas que foram forçadas a fugir das suas casas por causa da guerra, da violência e da perseguição atingiu 114 milhões na última contagem do ACNUR.

"No próximo mês atualizaremos este número. Será mais alto. As soluções políticas necessárias para resolver a questão das deslocações continuam obviamente ausentes", lamentou.

O alto-comissário indicou que as violações do direito humanitário internacional continuaram a ter um efeito devastador em milhões de vidas em todo o mundo, incluindo forçar as pessoas a fugir.

"Em nenhuma das crises de refugiados e de deslocação que vos descrevi em outubro passado vimos algum sinal de progresso a este respeito", frisou.

O diplomata recordou que quase ninguém quer sair de casa, em qualquer lugar do planeta, mas que a maioria o faz por causa da violência ou da guerra, dando como exemplo a deslocação de pessoas de África para a Europa.

"Os países ricos preocupam-se constantemente com o que chamam de 'movimentos irregulares'. Mas, nesta e noutras situações, não estão a fazer o suficiente para ajudar as pessoas antes de se entregarem aos traficantes de seres humanos. As consequências são inevitáveis", avaliou.

Traçando um quadro sombrio sobre a situação de milhões de pessoas em todo o mundo, Grandi contou, a título de exemplo, que na República Democrática do Congo há crianças forçadas a sexo por um preço inferior ao de "uma bebida gelada".

"Mas como podem os membros das Nações Unidas, como podemos 'nós, o povo', prestar tão pouca atenção e ter tanta inação num lugar onde o sexo com uma criança pode ser comprado por menos do que uma bebida gelada? Que mancha vergonhosa para a humanidade", criticou.

Em mais um alerta para a comunidade internacional, Grandi lembrou que é demasiado tarde para ajudar as dezenas de milhares de pessoas já mortas na Faixa de Gaza, na Ucrânia, no Sudão, na República Democrática do Congo, em Myanmar e em tantos outros locais.

"Mas não é tarde demais para concentrar a atenção e a energia nas crises e conflitos que permanecem por resolver, para que não possam apodrecer e explodir novamente. [...] Ainda não é tarde para tentar salvar incontáveis milhões de pessoas do flagelo da guerra", instou o líder do ACNUR.

Leia Também: Ucrânia. ONU lamenta falta de fundos quando necessidades aumentam

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