O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, acusou o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, de estar a prolongar a guerra na Faixa de Gaza por razões políticas.
Numa entrevista à revista Time, feita a 28 de maio, Biden respondeu, quando questionado sobre eventuais motivações políticas para que Netanyahu prolongasse a guerra: "Há todos os motivos para que as pessoas tirem essa conclusão".
O presidente norte-americano rejeitou alegações de que Israel está a utilizar a fome como arma de guerra na Faixa de Gaza, mas admitiu que os israelitas "têm levado a cabo atividade que é inapropriada" na região.
Em resposta, o porta-voz do governo israelita, David Mencer, disse que as declarações de Biden estão "fora das normas diplomáticas de qualquer país no seu perfeito juízo".
Na mesma entrevista, quando questionado sobre se tinha visto provas de crimes de guerra por parte dos israelitas em Gaza, Biden respondeu: "A resposta é incerta".
"Mas uma coisa é certa. O povo de Gaza, os palestinianos, têm sofrido fortemente com a falta de comida, água, medicamentos... E muitos inocentes já morreram", disse.
O presidente norte-americano, candidato a um segundo mandato nas presidenciais de novembro, defendeu estar em melhor posição do que o seu rival republicano Donald Trump para garantir que os Estados Unidos continuem a ser "a potência mundial" em assuntos como a Faixa de Gaza a Ucrânia ou Taiwan.
A entrevista à Time ocorreu antes do anúncio do Presidente norte-americano, na passada sexta-feira, de uma proposta para um cessar-fogo permanente na Faixa de Gaza, e que identificou como sendo da iniciativa de Israel, mas corrigida por Netanyahu, que afirmou existirem lacunas no plano apresentado e que a trégua seria apenas temporária.
Biden reconheceu que discordava particularmente de Israel sobre a necessidade da criação de um estado palestiniano.
"A minha grande discordância com Netanyahu é o que acontece depois... do fim [do conflito em] Gaza. A que situação [o território] retornará? As forças israelitas voltarão para lá?", questionou, acrescentando: "Se for esse o caso, não pode resultar".
Além disso, Biden, que fez do apoio à Ucrânia contra a Rússia uma das constantes da sua política externa, disse estar melhor posicionado do que Donald Trump para "garantir que a Rússia nunca, nunca, jamais ocupe a Ucrânia".
O líder democrata também criticou seu antecessor republicano, que ameaçou desfazer as alianças tradicionais de Washington e se aproximou de líderes autoritários durante o seu mandato.
"Todos os bandidos apoiam Trump. Dê-me o nome de um líder, além do [primeiro-ministro húngaro, Viktor] Orban e do [Presidente russo, Vladimir] Putin, que acha que Trump deveria ser o líder mundial nos Estados Unidos", declarou.
Relativamente às relações tensas com a China, o Presidente norte-americano reiterou que os Estados Unidos ficarão ao lado de Taiwan, ao mesmo tempo que afirmou que Washington não estava a tentar mudar o estatuto do território.
"Não procuramos a independência de Taiwan. Também não deixaremos de defender Taiwan se a China tentar mudar o estatuto unilateralmente", avisou.
Internamente, apesar de as sondagens mostrarem que os eleitores estão preocupados com a idade de Biden -- apenas quatro anos mais velho do que Trump, de 77 anos -- o democrata insistiu que é o melhor candidato.
"Posso fazer melhor do que qualquer outra pessoa", respondeu quando questionado se estava apto para governar para um segundo mandato completo.
A guerra foi desencadeada pelo ataque sem precedentes do movimento palestiniano Hamas em solo israelita, a 07 de outubro do ano passado, que causou a morte de 1.194 pessoas, a maioria civis, segundo uma contagem da France Presse baseada em números oficiais israelitas.
Das 251 pessoas tomadas como reféns nesse dia, 120 continuam detidas em Gaza, 41 das quais morreram, segundo o Exército israelita.
Em resposta, Israel, que pretende "aniquilar o Hamas", lançou uma ofensiva na Faixa de Gaza que já causou 36.479 mortos, segundo dados do Ministério da Saúde do governo de Gaza, administrado pelo Hamas.
[Notícia atualizada às 21h10]
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