Na cidade de Londonderry, onde os posters com a cara de Eastwood são visíveis com frequência, as opiniões dividem-se sobre a reeleição.
"O [partido republicano] Sinn Féin é capaz de ganhar ao SDLP, que nunca conseguiu nada pela região", afirma à agência Lusa Paul Doherty, diretor da Bogside History Tours, um passeio turístico pelo bairro da cidade de onde partiram muitas manifestações de católicos nos anos 1970 e 1980.
O percurso passa pelo monumento às vítimas do chamado "Domingo Sangrento" ('Bloody Sunday') de 30 de janeiro de 1972, quando 14 ativistas católicos, alguns menores, foram mortos por militares britânicos, incluindo o pai de Doherty, Patrick.
Doherty acredita que o Sinn Féin recupere o assento perdido em 2019 devido à lealdade da população ao movimento republicano, que quer a reunificação da Irlanda do Norte com a República da Irlanda.
No bairro de Bogside, local de fortes memórias históricas e convicções, é frequente ver bandeiras irlandesas fora das casas e nos postes de eletricidade, alternadas com bandeiras da Palestina.
O conflito em curso na Faixa de Gaza há mais de oito meses entre Israel e o Hamas é um tema que tem surgido frequentemente durante a campanha eleitoral e o Sinn Féin, que tem laços históricos com o grupo islamita palestiniano, defendeu desde cedo um cessar-fogo, mas não tem conseguido evitar as críticas de outros setores políticos.
Ativistas do partido People Before Profit (Pessoas antes do lucro, PBP na sigla inglesa) interromperam um debate com a primeira-ministra norte-irlandesa e líder do Sinn Féin na província britânica, Michelle O'Neill, em junho para acusá-la de conivência com Israel por ter visitado a Casa Branca (presidência dos Estados Unidos) em março.
O Sinn Féin está no governo em coligação com o rival Partido Democrata Unionista (DUP na sigla inglesa) desde fevereiro.
"Os dois principais partidos são cúmplices do genocídio em Gaza. O Sinn Féin podia pedir sanções ou um boicote a Israel", diz à Lusa Shaun Harkin, candidato pelo PBP.
Harkin espera que o Sinn Féin seja penalizado nas eleições por não ser mais assertivo na questão de Gaza, a qual tem mobilizado pessoas na cidade para manifestações ou recolha de fundos.
O candidato do PBP também não está satisfeito com Colin Eastwood, o qual considera que devia ser mais interventivo no parlamento britânico, e defende uma "mudança socialista".
Nas últimas eleições legislativas, em 2019, o Sinn Féin elegeu sete deputados, embora estes não tenham assumido os lugares porque o partido não reconhece a legitimidade do parlamento britânico.
O partido, que venceu as eleições regionais pela primeira vez na história da Irlanda do Norte, espera manter pelo menos os sete assentos, apesar da posição histórica de absentismo.
No total, a Irlanda do Norte elege 18 dos 650 deputados para a Câmara dos Comuns (câmara baixa do parlamento britânico).
O DUP, que elegeu oito representantes em 2019, acentuou o declínio após a saída súbita do líder Jeffrey Donaldson em março depois de ser acusado de crimes sexuais e também devido à posição firme anti-Brexit (saída britânica da União Europeia) que levou à suspensão da assembleia e do governo regionais durante dois anos.
Em melhor posição está o partido Aliança, que elegeu um deputado há cinco anos e espera repor a líder, Naomi Long, em Belfast East, em vez de Gavin Robinson, atual líder do principal partido unionista.
O Aliança, que não defende nem a unificação com a Irlanda nem a manutenção no Reino Unido mas é pró-europeu, poderá beneficiar da ausência estratégica de candidatos do Sinn Féin em quatro circunscrições eleitorais, onde apelou ao voto em "partidos progressivos".
O partido neutro também poderá ser favorecido pela dispersão dos votos do DUP pelo Partido Unionista do Ulster (UUP), mais moderado, e o Voz Tradicional Unionista (TUV), mais extremista, em círculos como Lagan Valley, representado por Jeffrey Donaldson desde 2010.
Leia Também: Polícias agredidos na Irlanda do Norte por menores. Houve 5 detenções