Debate entre Biden e Trump pode fazer mexer a agulha para os indecisos
O primeiro debate das presidenciais 2024 entre Joe Biden e Donald Trump pode fazer mexer a agulha para uma pequena percentagem de indecisos, disse à Lusa o cientista político Brian Adams, da Universidade Estadual da Califórnia em San Diego.
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"A maioria das pessoas tem forte afiliação partidária e não vai mudar o sentido de voto, mas os 5% a 10% que não têm são aqueles que vão decidir a eleição", afirmou o professor. "As sondagens estão muito próximas e tudo o que é preciso nos estados críticos é convencer 1% ou 2% dos eleitores".
A plataforma FiveThirtyEight, que usa sondagens e dados económicos e demográficos para calcular as hipóteses de vitória dos candidatos, tem agora Joe Biden à frente, mas por pouco: 51% para o democrata contra 49% de Trump As sondagens oscilam em favor de um ou outro mas a margem de erro significa que nenhum é favorito à vitória.
"Há um grande número de pessoas que ainda não decidiu por não gostar de nenhum dos candidatos", frisou o professor, referindo-se ao segmento de eleitores a que se chama de 'double haters'. "Muitos não têm forte apego por um ou outro candidato e por isso o seu voto pode ser conquistado".
O politólogo frisou que, historicamente, houve sempre uma pequena parte do eleitorado que usou os debates como motivo de decisão do voto. No entanto, este debate vai acontecer muito mais cedo que o habitual, antes mesmo das convenções dos partidos onde os candidatos serão formalmente nomeados.
"Podemos concluir que ambos querem tirar daí vantagens para a sua campanha, por exemplo, forçando a comunicação social e os eleitores a prestar atenção à corrida presidencial muito antes do normal", explicou à Lusa a cientista política Daniela Melo, considerando que os dois têm muito a provar.
"Para ambos é importante que o eleitorado comece a prestar atenção ao processo o quanto antes possível, sobretudo aqueles eleitores que se sentem desanimados com as opções e que ponderam ficar em casa em novembro", frisou a docente da Universidade de Boston.
Sendo moderado pela CNN, o debate foi acordado entre as campanhas sem o envolvimento da Comissão de Debates Presidenciais e há a expectativa de uma audiência razoável, embora seja difícil de prever.
"Nos últimos ciclos eleitorais, os debates tiveram muito boas audiências", salientou Brian Adams. "Mas será que os eleitores indecisos que não seguem política e ainda não estão a pensar nas presidenciais irão ligar-se em junho?", questionou.
Para Daniela Melo, este debate mais cedo que o normal dará a Trump a oportunidade de mudar o foco da conversa da sua condenação criminal em Nova Iorque para a corrida presidencial.
"Um dos objectivos de Trump será, sem dúvida, que as pessoas a assistir em casa fiquem convencidas de que Biden é idoso e até senil", referiu a especialista. O ex-presidente tem tentado baixar as expectativas sobre o seu desempenho levantando dúvidas sobre a imparcialidade dos moderadores da CNN e "insinuando que Biden poderá estar sob o efeito de fármacos durante o debate".
Melo antecipa que o republicano tentará desestabilizar o raciocínio de Biden, talvez atacando o seu filho Hunter ou acusando o presidente de orquestrar os processos criminais que enfrenta. "Se conseguir que Biden se atrapalhe ou fique confuso, sairá vencedor", considerou a analista.
Do outro lado, as expectativas quanto a Biden não são elevadas, até porque a narrativa sobre a sua idade -- 81 anos -- tem sido negativa. Se não surpreender como fez no Estado da União, "o debate poderá cristalizar na mente dos americanos que Biden realmente não está em condições de continuar como presidente", pontuou Daniela Melo.
A tarefa do presidente será "relembrar aos eleitores que Donald Trump submeteu a democracia americana a um teste de stress que poderia ter sido fatal", salientou politóloga. "Se conseguir que Donald Trump mostre o seu lado mais instável, incoerente e beligerante, terá ganho a noite".
A professora antecipa que imigração e economia serão o foco da discussão pelo lado de Trump, que os vê como trunfos. Para os democratas, o tema central deverá ser o aborto. Espera também que os moderadores questionem sobre a reforma do sistema judiciário, incluindo do Supremo Tribunal de Justiça.
Brian Adams acredita que Biden vai levantar a questão da condenação de Donald Trump, mas disse que focar-se nisso será má estratégia. "Se o fizer, as pessoas vão criticá-lo por não se focar nos problemas do país", indicou.
Por outro lado, se Trump insistir nos problemas legais de Hunter Biden, o professor calcula que isso será negativo para ele, porque muita gente se identifica com situações familiares difíceis.
Ainda assim, o facto de ser um debate antecipado dará tempo às campanhas para recuperar de gafes ou fazer correções. "Os eleitores não se lembram de muitas destas coisas. É uma dinâmica muito diferente por ser cedo e os candidatos poderem recuperar".
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