Embaixada dos EUA apela à Rússia para libertar o jornalista Gershkovich

A embaixada dos Estados Unidos em Moscovo apelou hoje às autoridades russas para libertarem imediatamente o jornalista Evan Gershkovich, cujo julgamento é baseado em acusações de espionagem que rejeita e que Moscovo nunca fundamentou.

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© REUTERS/Evgenia Novozhenina

Lusa
26/06/2024 12:49 ‧ 26/06/2024 por Lusa

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"Deixámos claro desde o início que Evan não cometeu qualquer irregularidade e não deveria ter sido detido", declarou a embaixada nas redes sociais, apelando à libertação "imediata" do repórter detido na Rússia há 15 meses, bem como à de outro americano, Paul Whelan, detido na Rússia desde 2018.

A primeira audiência do julgamento começou hoje à porta fechada num tribunal de Ecaterimburgo, nos Urais.

A justiça russa nunca fundamentou as acusações contra o correspondente do Wall Street Journal e manteve o conteúdo do processo em segredo.

Gershkovich, de 32 anos, foi detido em março de 2023 pelos serviços de segurança russos (FSB), tornando-se o primeiro jornalista ocidental desde a era soviética a ser acusado de espionagem na Rússia.

O repórter apareceu hoje num camarote envidraçado do tribunal regional de Sverdlovsk, com a cabeça rapada e uma camisa de xadrez escura.

Sorriu para os jornalistas que reconheceu, dizendo-lhes um "olá" quase inaudível, segundo uma equipa da AFP presente no local.

A imprensa teve um acesso breve à sala de audiências antes do início do julgamento.

Após esta primeira audição, a porta-voz do tribunal, Irina Tochtcheva, declarou que a próxima audiência se realizará a 13 de agosto e que a imprensa não será autorizada a filmar novamente o jornalista até que o veredicto seja anunciado, numa data ainda por determinar.

Contactado pela AFP, o gabinete de imprensa do Serviço Federal de Prisões (FSIN) recusou-se a dizer onde Gershkovich -- até agora detido em prisão preventiva em Moscovo, a 1.400 km de Ecaterimburgo -- estaria detido até esta nova audiência.

Só o seu advogado ou os familiares "podem fornecer esta informação", declarou o FSIN, que afirmou ainda que não sabia por que razão Gershkovich tinha agora a cabeça rapada e se se tratava de um corte de cabelo obrigatório nas suas novas condições de detenção ou de uma decisão pessoal.

Num comunicado, a embaixada dos Estados Unidos em Moscovo afirmou que os seus representantes puderam assistir hoje a uma pequena parte da audiência.

"Durante este período, as autoridades russas não apresentaram qualquer prova que confirme as acusações de que é alvo", afirmou a embaixada, reiterando que o jornalista está detido "ilegalmente" e é utilizado como "moeda de troca" pelo Kremlin "para atingir objetivos políticos".

Os investigadores russos acusam Gershkovich, que também trabalhou para a AFP em Moscovo de 2020 até ao final de 2021, de ter recolhido informações sensíveis para a CIA sobre um dos principais fabricantes de armas do país, a empresa Uralvagonzavod, que produz, entre outros, os tanques T-90 utilizados na Ucrânia e os Armata de nova geração, bem como vagões de carga.

Gershkovich, o seu empregador e as pessoas que lhe são próximas negam firmemente estas acusações, tal como Washington, que considera que Moscovo fabricou o caso para trocar o jornalista por russos detidos no Ocidente.

Segundo o Wall Street Journal, o jornalista, que pode ser condenado a 20 anos de prisão, foi detido "simplesmente por fazer o seu trabalho". Passou a sua prisão preventiva na conhecida prisão de Lefortovo, em Moscovo, mas está a ser julgado em Ecaterimburgo, onde foi detido.

Em comunicado, Clayton Weimers, diretor executivo da secção norte-americana da organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), afirmou ainda que "há todas as razões para acreditar que o Kremlin o detém para proceder a uma futura troca de prisioneiros".

A família de Gershkovich disse à AFP, no início de 2024, que estava a contar com a promessa do Presidente dos Estados Unidos, para obter a libertação do jornalista.

Na semana passada, um alto diplomata russo, Sergueï Riabkov, afirmou que Moscovo tinha feito uma proposta a Washington para uma troca de prisioneiros, sem revelar a natureza exata da oferta -- "A bola está no campo dos Estados Unidos".

O Presidente russo, Vladimir Putin, já reconheceu que as negociações estavam em curso e deu a entender que exigia a libertação de Vadim Krassikov, condenado a prisão perpétua na Alemanha por ter assassinado um antigo comandante separatista checheno em Berlim, em 2019, em nome de Moscovo.

A Rússia detém vários outros norte-americanos, incluindo o jornalista russo-americano Alsu Kurmasheva, preso em 2023 por um crime ao abrigo da Lei dos Agentes Estrangeiros, e o ex-marine Paul Whelan, que cumpre uma pena de 16 anos de prisão por espionagem, uma acusação que contesta.

Filho de imigrantes judeus da URSS, Evan Gershkovich cresceu em Nova Jersey e trabalha na Rússia desde 2017 para vários meios de comunicação social. Numa carta enviada ao seu diário em 2023, afirmou que "não perdia a esperança".

Leia Também: De cabeça rapada e a sorrir. Gershkovich começa a ser julgado na Rússia

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