O antigo editor do jornal do Partido Comunista Chinês Global Times Hu Xijin pediu também que a China "evite exagerar desafios externos e a hostilidade [nas redes sociais], o que transforma o nacionalismo extremo numa mercadoria de ódio à América e ao Japão, atribuindo a maior parte dos problemas [do país] a fatores externos".
Esta posição surgiu depois de um homem armado com uma faca ter atacado uma mãe japonesa e o filho e uma mulher chinesa na paragem de um autocarro escolar, na cidade de Suzhou, no leste da China.
De acordo com a imprensa oficial, a cidadã chinesa Hu Youping, empregada do transporte escolar, interpôs-se entre o agressor e as vítimas, recebendo uma facada que a acabou por matar.
Hu foi desde então homenageada como heroína na China e no Japão, que colocou a bandeira a meia haste na embaixada em Pequim.
O ataque foi seguido por uma vaga de discurso de ódio contra o Japão nas redes sociais chinesas, nomeadamente na Netease, plataforma de notícias e de partilha de conteúdos gerados por utilizadores, WeChat e Weibo.
A Netease afirmou, no domingo, que "certos acontecimentos" foram aproveitados por utilizadores "para incitar sentimentos nacionalistas extremos, distorcendo, exagerando ou mesmo fabricando conteúdos para publicar comentários inadequados".
A plataforma afirmou ter "silenciado ou banido contas envolvidas nestas declarações extremas e prejudiciais".
Também a Tencent, operadora da rede social WeChat, pediu aos utilizadores para denunciarem conteúdo que "incite ao conflito sino-japonês e provoque nacionalismo extremo".
"Alguns internautas têm fabricado declarações extremistas. A plataforma combate firmemente este tipo de violações e de contas, tendo tratado 836 violações relacionadas e 61 contas infratoras. Dependendo da gravidade e das regras da plataforma, as medidas tomadas incluem o silenciamento e exclusão de contas", indicou, em comunicado.
A rede social chinesa Weibo puniu também 36 contas e removeu 759 publicações relacionadas com o ataque. O conteúdo removido "interpretava excessivamente o incidente" e "difundia discurso extremista que incitava ao sentimento nacionalista, promovia o ódio e até aplaudia atos criminosos em nome do patriotismo", lê-se no comunicado emitido pela plataforma, equivalente à rede X (antigo Twitter) na China.
A disputa entre China e Japão sobre a decisão de Tóquio de libertar as águas residuais tratadas da central nuclear de Fukushima veio agravar décadas de animosidade entre as duas nações.
Em particular, os chineses ressentem a ocupação japonesa durante a Segundo Guerra Mundial, que incluiu atrocidades como a "Violação de Nanquim" - um período de assassínios e violações em massa cometidos depois de os soldados japoneses terem tomado a cidade -- e a tortura, escravatura sexual e experiências científicas com seres humanos.
As velhas feridas ressurgem quando políticos nacionalistas japoneses visitam o santuário Yasukuni, em Tóquio, que homenageia militares e políticos condenados por crimes de guerra após a Segunda Guerra Mundial.
A China classifica estas visitas como "graves provocações", instando Tóquio a "aprender com a História".
A ocupação é frequentemente tema de séries televisivas e filmes na China, onde a retórica oficial do regime pede à população para "não esquecer a humilhação nacional".
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