Em declarações à agência Lusa à margem de uma ação de campanha em Goussainville, no norte de Paris, Arnaud le Gall salientou que a França Insubmissa (LFI, na sigla em francês) vê Portugal como "um país amigo".
"Nós partilhamos com Portugal, ou em todo o caso com os dirigentes portugueses, a rejeição da austeridade e dos ditames do Banco Central Europeu (BCE)", salientou o também deputado do partido, que, na última legislatura, integrou a comissão de Negócios Estrangeiros da Assembleia Nacional francesa.
Arnaud le Gall rejeitou que a França Insubmissa - que integra a coligação de esquerda Nova Frente Popular (Nouveau Front Populaire, em francês) - proponha a saída da França da União Europeia (UE), mas contrapôs que o partido está "preparado para desobedecer" às regras europeias.
"Estamos preparados para desobedecer para poder instaurar uma forma de protecionismo ao nível europeu e reindustrializar, o que acho que também é um tema importante para os portugueses", referiu.
Le Gall acrescentou ainda que, apesar de não querer "opor os latinos aos germanófonos", houve uma mudança do centro político da União Europeia para o leste e norte do continente, considerando que é preciso reequilibrá-la, em particular para o sul.
"É do nosso interesse lembrar também que a Europa não deve ser uma fortaleza no que se refere ao sul e que, por exemplo, devemos estabelecer relações com os países na costa do mar Mediterrâneo que não sejam meramente com base na segurança, mas de entreajuda", referiu.
Questionado se não considera que o facto de Portugal ter atualmente um Governo de direita pode obstaculizar as relações entre os dois países caso a França Insubmissa venha a integrar o executivo, Arnaud le Gall respondeu que, caso a coligação de esquerda ganhe as eleições, irá apresentar "propostas para romper com a austeridade e desobedecer quando for para desobedecer".
Para o deputado, a UE é atualmente o "idiota útil da mundialização", tendo em conta que os Estados Unidos "são protecionistas, estão a relançar a indústria", enquanto os países europeus "estão obcecados com o ultraliberalismo, com a independência do BCE, com a livre concorrência".
Arnaud le Gall salientou que, se a Europa continuar assim, "daqui a 10 já não terá indústria", pelo que o partido propõe que isso mude e que, para se tomarem decisões estratégicas a nível nacional, deixe de ser preciso "esperar que Bruxelas esteja de acordo".
"Se, depois, um Governo de direita [em Portugal] estiver de acordo com isso, não somos nós que vamos dizer: 'não, porque é de direita'. Se não estiver de acordo, confrontaremos as nossas visões", referiu.
Nestas declarações à Lusa, Le Gall fez ainda referências ao período da 'geringonça', salientando que Portugal conseguiu, durante um tempo, "impedir o crescimento da extrema-direita graças a uma esquerda que era mais à esquerda do que os outros sociais-democratas".
"Agora vemos que a situação está diferente, mas o caminho continua a ser muito claro: só uma esquerda de rutura pode travar a extrema-direita. É verdade em França, é verdade em Portugal, é verdade em todo o lado", referiu.
Questionado se prevê que a união das esquerdas que se está a verificar em França se exporte para toda a Europa, como forma de impedir o crescimento da extrema-direita, Le Gall respondeu: "Claro que sim".
"Qualquer que seja a fórmula deste tipo de alianças, que podem variar consoante a história de cada país e as relações de força que lá existem", disse.
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