Os trabalhos na cimeira da organização sub-regional, além da nomeação do seu líder para os próximos 12 meses, serão dominados pelos assuntos de segurança e pelos problemas decorrentes do abandono no ano passado dos três estados do Sahel palcos de cinco golpes de estado militares nos últimos anos: Mali, Burkina Faso e Níger.
Os chefes de estado da organização - de que fazem parte dois países membros da CPLP: Guiné-Bissau e Cabo Verde - irão debater o plano proposto pelos seus ministros da Defesa no passado dia 26 de constituição de uma "força de reserva" de 5.000 homens para combater o agravamento da crise de segurança na região.
O plano foi avaliado em 2,6 mil milhões de dólares (2,4 mil milhões de euros) por ano, um número que ameaça, desde logo, a sua viabilidade atendendo ao estado das principais economias regionais, mas reflete também as lógicas políticas de alguns Estados-membros, a começar pela Nigéria e Costa do Marfim.
A medida, a avançar, operacionaliza a há muito discutida "força de reserva", destinada a combater o agravamento da crise de segurança na região, mas também novos golpes de Estado no seio da organização, como sublinhou na semana passada o ministro da Defesa nigeriano, Mohammed Badaru.
Quanto à liderança da CEDEAO, Bola Tinubu começou da pior forma o mandato que agora chega ao fim e o Presidente nigeriano pretende renovar. O primeiro teste que enfrentou enquanto líder da organização ocorreu apenas duas semanas após o início do seu mandato, quando os militares do Níger, liderados pelo general Abdourahamane Tiani, derrubaram o presidente democraticamente eleito, Mohamed Bazoum, em 26 de julho de 2023.
Tinubu liderou de imediato a imposição sanções - como os seus antecessores tinham já feito com o Mali, Guiné-Conacri e Burkina Faso, com encerramento de fronteiras e restrições comerciais - mas foi ainda mais longe e ameaçou invadir o Níger, caso a junta militar que assumiu o poder não libertasse o Presidente Bazoum -- que ainda se encontra detido - e os membros da sua família.
A ameaça levou o Mali, Burkina Faso e Níger a anunciarem o abandono da CEDEAO, com "efeitos imediatos", e a constituírem a AES.
Por outro lado, o novo poder no Níger expulsou as forças francesas e americanas do país, à semelhança do que já tinha acontecido no Mali e Burkina Faso, e o bloco veio desde então a aprofundar a aproximação novos atores internacionais, como a Rússia, Irão, China ou Turquia.
Este sábado, os três regimes golpistas realizaram a primeira cimeira da AES, precisamente na véspera da cimeira da CEDEAO e em Niamey, a capital do Níger, onde discutiram o aprofundamento das relações económicas e de segurança e defesa.
"A CEDEAO começou com uma abordagem errada e sucumbiu a influências externas, impondo sanções, pensando que isso traria de volta os Estados membros da AES. Não resultou. Os líderes dos dois grupos [CEDEAO e AES] têm enormes diferenças ideológicas e geracionais. Na situação atual, é provável que a AES venha a retirar outros membros da CEDEAO em breve", afirmou em declarações à Lusa Ezenwa Olumba, investigador no Departamento de Relações Políticas e Internacionais da Universidade de Londres.
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