Milhares de bósnios assinalam genocídio de 1995 negado por sérvios

Milhares de bósnios locais e da diáspora reuniram-se hoje em Srebrenica para assinalar o genocídio de 1995, que as autoridades sérvias continuam a negar, alimentando tensões étnicas e divisões profundas no Estado devastado pela guerra.

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© Samir Jordamovic/Anadolu via Getty Images

Lusa
11/07/2024 13:07 ‧ 11/07/2024 por Lusa

Mundo

Srebrenica

Vinte e nove anos depois de terem sido assassinados no único genocídio reconhecido na Europa desde o Holocausto, os corpos de 13 homens e de um adolescente foram sepultados num vasto cemitério memorial em constante expansão nos arredores de Srebrenica, no leste da Bósnia, juntando-se às mais de 6.600 vítimas do massacre que já aí jazem.

 

Calcula-se que mais de 8.000 muçulmanos bósnios tenham sido mortos no tiroteio perpetrado pelo exército e pela polícia sérvios da Bósnia durante vários dias em julho de 1995.

Os familiares das vítimas só podem enterrar parte dos restos mortais dos seus entes queridos, uma vez que estes se encontram normalmente espalhados por várias valas comuns, por vezes a quilómetros de distância.

Os assassínios de Srebrenica foram o culminar sangrento da guerra de 1992-1995 na Bósnia, que ocorreu depois de o desmembramento da Jugoslávia ter desencadeado paixões nacionalistas e ambições territoriais que opuseram os sérvios da Bósnia às duas outras principais populações étnicas do país -- croatas e bósnios, que são maioritariamente muçulmanos.

A celebração de hoje ocorreu poucas semanas depois de a Assembleia Geral das Nações Unidas ter votado a favor da designação do dia 11 de julho como dia internacional de reflexão e comemoração do genocídio de Srebrenica de 1995. 

Isso mesmo foi decretado quarta-feira na Turquia, que decidiu assinalar oficialmente, pela primeira vez, o '11 de julho' como Dia Internacional de Reflexão e Comemoração do Genocídio de Srebrenica.

"O dia 11 de julho [...] será comemorado no nosso país para partilhar a dor, condenar o genocídio e os crimes contra a humanidade e sensibilizar a opinião pública", lê-se num decreto presidencial publicado no Diário da República turco.

A Sérvia e os sérvios da Bósnia opuseram-se fortemente à aprovação da efeméride, alegando que retrata erradamente todos os sérvios como "pessoas genocidas".

Os líderes sérvios insistem que o massacre não é um genocídio, mas um "crime terrível". Também minimizaram o número de mortos.

"O genocídio de Srebrenica não aconteceu e, se tivesse acontecido, não haveria necessidade de impor constantemente este tema", afirmou repetidamente o Presidente separatista sérvio da Bósnia, Milorad Dodik.

A Presidente do Conselho de Administração do Centro de Memória de Srebrenica, Hamdija Fejzic, frisou hoje que a negação do genocídio tem de acabar.

"Durante 29 anos, a política de encobrimento e negação do genocídio foi levada a cabo pelas forças que conceberam e planearam o genocídio e que, durante anos, deram abrigo aos suspeitos e acusados dos mais graves crimes de guerra", afirmou.

Num artigo de opinião publicado nos meios de comunicação social bósnios, o Alto Representante da União Europeia, Josep Borrell, afirmou que Srebrenica "continua a ser uma cicatriz profunda na história da Europa".

"A incapacidade de impedir este genocídio é um fardo que continuamos a carregar. Tanto o Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia como o Tribunal Internacional de Justiça determinaram indiscutivelmente que este crime é um genocídio", sustentou.

"Prometemos que nunca esqueceríamos nem as vítimas, nem a dor duradoura das suas famílias e entes queridos. A sua memória leva-nos a trabalhar todos os dias para garantir que a história não se repete, num mundo onde a paz parece cada vez mais frágil", referiu Borrell.

A 11 de julho de 1995, os sérvios da Bósnia invadiram uma zona segura protegida pela ONU em Srebrenica. Separaram mais de 8.000 homens e rapazes bósnios das suas mulheres, mães e irmãs e massacraram-nos. Aqueles que tentaram fugir foram perseguidos através dos bosques e das montanhas em redor da cidade.

Os perpetradores deitaram então os corpos das suas vítimas em valas comuns feitas à pressa, que mais tarde desenterraram com escavadoras, espalhando os restos mortais por outros locais para esconder as provas dos crimes de guerra.

O líder político sérvio-bósnio do tempo da guerra, Radovan Karadzic, e o seu comandante militar, Ratko Mladic, foram ambos condenados por genocídio em Srebrenica por um tribunal especial das Nações Unidas para crimes de guerra, em Haia.

No total, o tribunal e os tribunais dos Balcãs condenaram cerca de 50 oficiais sérvios bósnios do tempo da guerra a mais de 700 anos de prisão pelos assassínios em Srebrenica.

No entanto, a maioria dos funcionários sérvios e sérvios bósnios continuam a celebrar Karadzic e Mladic como heróis nacionais, bem como a desvalorizar ou mesmo a negar os assassínios de Srebrenica e a ofender as vítimas e os sobreviventes do massacre.

Leia Também: Ocidente condena secessionismo dos sérvios bósnios e apoia Bósnia na UE

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