A polícia e as forças armadas atuaram em força em várias zonas da capital do país, onde se concentraram pequenos grupos de manifestantes, vários os quais foram maltratados pelas autoridades e obrigados a entrar em camiões.
Os protestos estão a ser organizados por um movimento civil, que espera imitar os esforços da população do vizinho Quénia, cuja ação nas ruas obrigou recentemente o Presidente William Ruto a demitir quase todo o seu gabinete na sequência de uma oposição generalizada a uma proposta orçamental controversa.
Três líderes do movimento, George Victor Otieno, Kennedy Ndyamuhaki e Praise Aloikin Opoloje, "foram detidos quando marchavam em direção ao Parlamento e levados para um local desconhecido pela polícia", disse à AFP um dos advogados do movimento de protesto, Ashraf Kwezi, acrescentando que "este é o preço que [os manifestantes] estão dispostos a pagar e não vão parar".
"Algumas pessoas desafiaram a diretiva da polícia para não participarem na marcha até ao Parlamento e foram selecionadas para serem interrogadas", disse à AFP o porta-voz da polícia ugandesa, Kituuma Rusoke, sem especificar o número de pessoas detidas.
Os protestos dos ugandeses foram motivados pelas alegações crescentes de corrupção contra a presidente do Parlamento, Anita Among, que rejeitou até agora os apelos à sua demissão.
A campanha anticorrupção começou com revelações na internet de despesas alegadamente irregulares efetuadas pelo gabinete da presidente do Parlamento e por outras pessoas próximas da mesma.
Among, membro destacado do partido no poder no Uganda, foi entretanto sancionada pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido.
A política negou qualquer irregularidade e os seus apoiantes dizem que foi injustamente visada num país onde a corrupção é galopante entre os funcionários públicos.
Among é atualmente objeto de uma investigação oficial sobre a origem da sua riqueza, bem como de acusações de utilização indevida de recursos parlamentares.
O Presidente do Uganda, Yoweri Museveni, um líder autoritário que está no poder desde 1986, considerou no passado fim de semana que os protestos de rua são intoleráveis.
"Defendemos a direção do caminho revolucionário do Uganda no passado e vamos defendê-la ainda mais agora", disse Museveni num discurso divulgado pela estação pública de televisão, em que ameaçou os organizadores dos protestos, dizendo-lhes que estavam a "brincar com o fogo".
Há muito que o governo de Museveni é acusado de proteger de ações penais funcionários corruptos, mas influentes. Após a reeleição para um sexto mandato em 2021, o chefe de Estado prometeu combater a corrupção, um compromisso que colheu poucas esperanças entre a população.
Os meios de comunicação social locais noticiam frequentemente questões relacionadas com a corrupção, mas os protestos no país são fortemente reprimidos, ao abrigo de uma lei que exige a notificação prévia da polícia de eventuais planos de reunião.
O facto não impediu Ezra Rwanshande, advogado especializado em direitos humanos, de participar na manifestação de hoje em Kampala.
"A manifestação pacífica é um direito consagrado na Constituição do Uganda e não descansaremos enquanto os corruptos não forem afastados do poder", afirmou à AFP.
O movimento, organizado fora de qualquer quadro político, tomou forma nas redes sociais em torno da hashtag "StopCorruption", e as manifestações são constituídas por pequenos grupos dispersos, por vezes apenas duas pessoas, outras por uma dúzia.
Esta segunda-feira, três deputados da Plataforma de Unidade Nacional (NUP), o principal partido da oposição, foram detidos preventivamente. O líder da NUP, Bobi Wine, um candidato mal sucedido nas últimas eleições presidenciais de 2021, deu o seu apoio ao movimento. As instalações do NUP em Kampala estão cercadas pela polícia.
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