Citado pelo jornal de Hong Kong South China Morning Post (SCMP), o Ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmytro Kuleba, afirmou que esse acordo ameaça a segurança na região.
"A assinatura do acordo de parceria estratégica global entre a RPDC [República Popular Democrática da Coreia] e a Federação Russa, que permite à Rússia fornecer armas de alta precisão, transferir tecnologias militares avançadas e prestar outro tipo de apoio à Coreia do Norte, perturba o equilíbrio de segurança (...) e cria riscos adicionais para a segurança regional e global", afirmou Kuleba, em entrevista ao jornal de Hong Kong.
"Esperamos que a República Popular da China desempenhe um papel construtivo na superação dos desafios à segurança regional e global que estão a crescer à medida que Rússia e Coreia do Norte expandem a cooperação militar", acrescentou.
A visita de Dmytro Kuleba, que deverá prolongar-se até sexta-feira, é a primeira à China desde o início da invasão russa.
"O principal tema de discussão vai ser a procura de formas de travar a agressão russa e o papel da China na obtenção de uma paz duradoura e justa", afirmou o Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano, em comunicado.
Pequim, que considera a parceria com a Rússia fundamental para contrapor a ordem democrática liberal, liderada pelos Estados Unidos, nunca condenou a invasão russa e acusa a NATO de negligenciar as preocupações de segurança de Moscovo.
Mas o país asiático também apelou, no ano passado, numa proposta de paz, ao respeito pela integridade territorial de todos os Estados, incluindo a Ucrânia.
Citado pelo SCMP, Kuleba afirmou que, até à data, não foi confirmada a presença de tropas norte-coreanas em solo ucraniano.
"Não temos informações confirmadas de que a RPDC tenha tomado quaisquer medidas práticas a este respeito. Mas continuamos a acompanhar a situação juntamente com os nossos parceiros", acrescentou.
Mas a Coreia do Norte forneceu pelo menos "2,6 milhões de projéteis de artilharia e até 60 mísseis balísticos" que foram utilizados pela Rússia no bombardeamento da Ucrânia, de acordo com o chefe da diplomacia ucraniana.
"Apesar de, em geral, a qualidade das armas norte-coreanas ser bastante baixa, com elevada taxa de falhas, estas ainda dão às tropas russas alguma vantagem em termos de artilharia no campo de batalha. Isso é, de facto, motivo de preocupação para nós", disse.
Com mais mortes e destruição infligidas pelas tropas russas na Ucrânia, a Coreia do Norte pode sentir-se encorajada a desafiar a estabilidade da península coreana e de toda a Ásia, advertiu Kuleba.
"Temos de enfrentar estas ameaças em conjunto e tratá-las como um desafio global. O apoio à Ucrânia hoje é um investimento na estabilidade da Ásia", disse.
Pyongyang poderá enviar também tropas de engenharia e construção para ajudar a Rússia a efetuar obras "de reconstrução" nas cidades ocupadas da Ucrânia, após a assinatura do acordo.
Kuleba disse que a Rússia tem estado a recrutar mercenários de muitos países, numa tentativa de ultrapassar as linhas da frente e avançar mais profundamente no território da Ucrânia.
O responsável disse que Moscovo usou já recrutas do Ruanda, Burundi, Congo, Uganda, Índia, Nepal e Cuba.
Muitos dos mercenários "foram enganados" para combater no exército russo, como atestam os testemunhos depois de terem sido capturados como prisioneiros de guerra pelas forças ucranianas, acrescentou.
"Aproveito esta oportunidade para avisar todas as pessoas de vários países para nunca confiarem nas ofertas russas. A Rússia não valoriza de todo a vida humana. Eles prometem algumas coisas, mas podem acabar feridos ou mortos em solo ucraniano. Não se tornem carne para canhão da Rússia", afirmou.
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