"O anúncio dos resultados das eleições presidenciais, pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) gerou grande preocupação entre amplos setores da população (...). Reiteramos o nosso apelo para que se faça valer a vontade popular expressa nas urnas", apelou a Conferência Episcopal Venezuelana (CEV), num comunicado.
No texto divulgado em Caracas, a CEV sublinhou que "não se trata apenas de uma exigência da lei venezuelana, mas também de uma exigência ética" e que "só assim a verdade dos factos prevalecerá sobre qualquer possível manipulação dos mesmos, e a paz e a confiança reinarão em todos os venezuelanos".
"A inquietação e o mal-estar gerados (...) têm-se expressado, entre outras, nas diversas manifestações que, no exercício dos direitos dos cidadãos contemplados na Constituição e nas leis da República, têm tido lugar em todo o território nacional, com a participação numerosa de cidadãos de todas as condições sociais", frisou o organismo.
No entanto, segundo lamentou a CEV, algumas destas manifestações foram marcadas por acontecimentos violentos que resultaram na morte de algumas pessoas, no registo de feridos e de detenções, bem como na destruição de bens.
"Afirmamos com determinação que a vida e a dignidade de cada pessoa devem ser respeitadas e salvaguardadas. Por conseguinte, condenamos todas as manifestações de violência, venham elas de onde vierem. Deploramos os mortos e feridos entre os manifestantes e os membros das forças de segurança e solidarizamo-nos com as suas famílias e entes queridos", prosseguiu a nota informativa.
No comunicado, a CEV apelou ainda "aos órgãos do Estado, e especialmente às forças policiais e militares, para que cumpram a sua missão de garantir a ordem pública, de acordo com a lei, evitando qualquer possível abuso".
"Apelamos a todos os atores políticos para que abandonem a linguagem da desqualificação e do confronto que tantos danos têm causado ao nosso país. Convidamo-los, para o bem de todo o povo da Venezuela, a procurar caminhos de diálogo político e de encontro cidadão. A Venezuela precisa de todos os seus filhos!", sublinhou o organismo.
A Venezuela regista desde segunda-feira protestos em várias regiões do país contra os resultados anunciados pelo CNE, quando proclamou oficialmente a recondução de Nicolás Maduro como Presidente, para o período 2025-2031.
A contestação nas ruas venezuelanas está a ser marcada por confrontos, existindo registo de vítimas mortais e de centenas de detenções.
De acordo com os dados oficiais do CNE, Maduro foi reeleito para um terceiro mandato consecutivo com 51,2% dos votos, tendo obtido 5,15 milhões de votos.
O principal candidato da oposição, Edmundo González Urrutia, obteve pouco menos de 4,5 milhões de votos (44,2%), indicou o CNE.
A oposição venezuelana reivindica, contudo, a vitória nas eleições presidenciais realizadas no domingo passado, com 70% dos votos para Gonzalez Urrutia, afirmou a líder opositora María Corina Machado, recusando-se a reconhecer os resultados proclamados pelo CNE.
Os resultados estão também a ser questionados por parte da comunidade internacional, que está a pedir para serem publicadas as atas das mesas eleitorais, de forma a serem verificados os dados do escrutínio anunciados oficialmente.
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