"É um acontecimento importante para o Estado chileno, não só pela sua relação bilateral, mas também a nível estratégico a nível regional", disse à EFE Rodrigo Espinoza, doutorado em Ciência Política e académico da Universidade Diego Portales.
O especialista realçou que "depois do que aconteceu nas últimas eleições na Venezuela, onde se gerou uma tensão significativa entre os governos de esquerda da região", o Estado chileno "foi muito mais claro e enfático no esclarecimento da situação que ocorre no referido país".
Embora a situação na Venezuela não esteja incluída na agenda oficial e esteja até agora ausente do projeto da sua declaração conjunta, é muito provável que seja abordada, pois "é mais do que natural que falem sobre a região", observaram porta-vozes do Governo brasileiro esta semana.
Esta é, em última análise, uma questão "inevitável", especialmente tendo em conta a determinação da administração de Nicolás Maduro em retirar as suas missões diplomáticas da Argentina, Costa Rica, Peru, Panamá, República Dominicana, Uruguai e Chile, e expulsar os representantes desses países por questionarem os resultados das eleições presidenciais que o declararam vencedor.
"Será uma reunião importante, porque no passado surgiram certas divergências entre Lula da Silva e Gabriel Boric noutras reuniões multilaterais, por exemplo, em relação à guerra na Ucrânia, onde Boric tinha um tom muito mais enérgico e alinhado com o Ocidente em relação à situação na Europa, enquanto o Brasil assumiu posições mais próximas do grupo BRICS" (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), explicou o politólogo.
Além da visita ao La Moneda, a agenda de Lula no Chile inclui uma reunião privada com Boric e uma reunião alargada com as suas delegações, na segunda-feira, para depois passar a reuniões formais com o presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Blanco, o presidente do Senado, José García Ruminot, e com o presidente da Câmara dos Deputados, Karol Cariola.
Durante a tarde, os dois chefes de Estado participarão no encerramento do Fórum Empresarial Chile -- Brasil, organizado pela Sociedade de Desenvolvimento da Manufatura (Sofofa) e pela Embaixada do Brasil no Chile, enquanto na terça-feira está prevista a assinatura de um acordo de Cooperação Espacial, no Museu Aeronáutico da Força Aérea Chilena, na comuna de Cerrillos.
No total, está prevista a assinatura de cerca de 20 acordos de cooperação com o Chile em diversos temas como segurança, saúde, comércio, cultura, ciência e turismo, entre outros.
O chefe de Estado do Brasil deverá chegar ao aeroporto de Santiago hoje à noite, acompanhado por uma delegação com 14 dos seus ministros, bem como autoridades e representantes de agências, empresas e fundações do seu país.
Em dezembro de 2022, o presidente chileno deslocou-se a Brasília para assistir à tomada de posse do seu homólogo brasileiro e "reativar" as relações entre os dois Estados, após um claro afastamento durante o último período da gestão de Jair Bolsonaro.
Com 213 milhões de habitantes, o Brasil é o principal parceiro comercial do Chile na região e representou 4,5% das exportações chilenas em termos globais e 30% para a América Latina, em 2020.
O Chile é o maior fornecedor para o Brasil de cátodos de cobre, salmão, vinho engarrafado, metanol, iodo, entre outros.
Por sua vez, o Chile é um dos principais destinos das exportações brasileiras de carne de bovino desossada, carroçarias de veículos, manufaturas de ferro ou aço, entre outros.
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