Salvador Illa, o socialista que tirou os independentistas do poder na Catalunha

O socialista Salvador Illa, que toma posse hoje como presidente do governo regional da Catalunha, une apoiantes e críticos nos adjetivos que usam para o qualificar: moderado, paciente, dialogante e pragmático.

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© JOSEP LAGO/AFP via Getty Images

Lusa
10/08/2024 13:35 ‧ 10/08/2024 por Lusa

Mundo

Catalunha

Num país como Espanha, em que o discurso político é especialmente crispado, e numa região como a Catalunha, marcada na última década pela polarização em torno do independentismo, foi este político "trabalhador, metódico, disciplinado e paciente", de "trato afável", como o descreveu o jornal El Mundo, que venceu as últimas eleições catalãs e põe hoje ponto final a 14 anos consecutivos de executivos separatistas na região.

 

O apoio ao independentismo tem perdido terreno continuamente na Catalunha desde 2018, depois da declaração unilateral de independência de 2017, segundo as sondagens e sucessivos resultados eleitorais.

Este período coincidiu também com a mudança de cor do Governo de Espanha, que o socialista Pedro Sánchez lidera desde 2018 com acordos parlamentares com partidos independentistas catalães.

Entre as cedências que Sánchez fez aos independentistas estão indultos e uma amnistia, que os socialistas parecem estar a capitalizar eleitoralmente na Catalunha. No entanto, os analistas coincidem em reconhecer também um "fator Illa" ou "efeito Illa" importante, sublinhando o perfil moderado e os bons índices de popularidade e de credibilidade do líder socialista regional.

O "fator Illa" notou-se já nas eleições catalãs de 2021, quando pela primeira vez foi candidato, num momento em que o Partido Socialista da Catalunha (PSC) partiu para a campanha como quarta força na região. Illa acabou por ser o mais votado, mas não chegou à Generalitat por causa da maioria absoluta que formavam os partidos independentistas no parlamento autonómico.

Este ano, venceu as eleições de forma mais expressiva, acabou com a maioria independentista no parlamento e ainda negociou e conseguiu o apoio do partido separatista Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) para chegar à Generalitat.

Nestes três anos, entre uma eleição e outra, segundo o analista e colunista catalão Josep Martí Blanch, "esteve bem", fez "uma oposição tranquila", chegou a ajudar a ERC (que estava no governo) a aprovar orçamentos, sempre "sem menosprezar ou insultar o independentismo".

"Há muita gente, inclusivamente no nacionalismo moderado, que o vê como alguém capaz de acabar de estabilizar a Catalunha e que merece um voto de confiança", explicou à Lusa poucos dias antes das eleições autonómicas de 12 de maio Josep Martí Blanch, antigo jornalista e ex-responsável pela comunicação dos governos regionais do nacionalista Artur Más (2010 a 2016, centro-direita).

O "estilo pessoal, conciliador, dialogante e moderado" de Illa ficou bem demonstrado na sessão parlamentar da quinta-feira passada, em que foi eleito presidente da Generalitat pelos deputados regionais e sublinhou querer unir a Catalunha, como escreveu o jornal El Pais num editorial.

"O contraste entre o discurso de Illa e o ridículo de Puigdemont é a melhor expressão do futuro e o passado da política catalã", acrescentou o mesmo diário, que se referia à mediática passagem por Barcelona, no mesmo dia, do independentista e ex-presidente da Generalitat Carles Puigdemont, que é alvo de um mandado de detenção em Espanha mas voltou a fugir à polícia.

Salvador Illa, de 58 anos e licenciado em Filosofia, ganhou popularidade e a notoriedade que tem hoje não na Catalunha, onde nasceu, mas em Madrid, quando foi ministro da Saúde de Pedro Sánchez entre 2020 e 2021, coincidindo com a pandemia de covid-19.

Num país muito descentralizado e em que a Saúde é tutela das regiões autónomas, a pasta que lhe coube no Governo espanhol não era então, como não é hoje, de especial relevância. Mas a chegada da pandemia deu-lhe inesperadamente protagonismo e ganhou então popularidade e a imagem de homem sério, dialogante e conciliador, capaz de se entender, de forma serena, com as diversas administrações, independentemente da cor política.

Nascido em 1966 em Rocca del Vallés, uma cidade industrial perto de Barcelona, onde foi presidente da câmara durante 10 anos, Salvador Illa é filho de um operário e de uma dona de casa.

Ligado à política e ao Partido Socialista na Catalunha desde muito jovem, conhece também bem o movimento independentista, com quem negociou o regresso ao poder de Pedro Sánchez, num trabalho pouco visível na altura.

A proximidade a Sánchez leva críticos e adversários a considerá-lo, como fez o El Mundo esta semana, "o obediente governador do sanchismo na Catalunha". Já os apoiantes e admiradores destacam a moderação, o discurso conciliador e a capacidade de diálogo com várias sensibilidades políticas de Salvador Illa, que, como escreveu o El Pais, lidera o PSC "mais centrista das últimas décadas".

Leia Também: Salvador Illa toma posse como presidente da Generalitat da Catalunha

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