A Convenção Nacional Democrata abriu, na segunda-feira, com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, mas ainda promete terminar com grandes surpresas, nomeadamente, com a presença de republicanos que escolheram 'mudar de lado' e votar em Kamala Harris.
Um dos nomes de peso é J. Michael Luttig, um ex-magistrado conservador que teve influência sob as administrações de George H. W. Bush e George W. Bush e, em 2020, ficou conhecido por convencer o então vice-presidente Mike Pence a ratificar os resultados das eleições presidenciais, que davam Joe Biden como vencedor.
"Nas eleições presidenciais de 2024, há apenas um partido político e um candidato à presidência que pode reivindicar o manto de defensor e protetor da democracia norte-americana, da Constituição e do Estado de Direito", referiu em comunicado enviado à imprensa, justificando o seu voto, que será pela primeira vez no Partido Democrata: "Por conseguinte, votarei sem hesitação na candidata do Partido Democrata à presidência dos Estados Unidos, a vice-Presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris".
O juiz jubilado que desde 2020 tem vindo a ser um crítico do antigo presidente em termos constitucionais, sublinhou que nas próximas eleições as distinções partidárias têm de ser isoladas, por forma a evitar que Trump, "inapto" para o papel, regresse à Casa Branca.
“Ao votar na vice-presidente Harris, parto do princípio de que as suas opiniões em matéria de política pública são muito diferentes das minhas”, apontou Luttig, dando conta de que "nesta eleição sou indiferente às suas opiniões em relação a quaisquer outras questões que não sejam a democracia americana, a Constituição e o Estado de direito, como acredito que todos os americanos deveriam ser".
Luttig considera ainda que tanto Trump como o Partido Republicano que agora gira à sua volta "lançaram uma guerra contra a democracia dos Estados Unidos", e que haverá consequências neste 'fanatismo'.
"Por causa das alegações contínuas e conscientemente falsas do ex-presidente de que ele ganhou as eleições de 2020, milhões de americanos não têm mais fé e confiança em nossas eleições nacionais, e muitos nunca mais terão”, justifica, acrescentando que "muitos norte-americanos - especialmente os jovens, tragicamente - começaram mesmo a questionar se a democracia constitucional é a melhor forma de autogoverno para os EUA".
Juiz não está sozinho
Mas este juiz não é o único conservador a ir contra o Partido Republicano numas eleições que define como aquelas em que o "país tem de escolher" pela democracia.
Também Stephanie Grisham, porta-voz da Casa Branca sob a administração Trump, escolheu apoiar a candidata democrata na próxima ida às urnas, marcada para novembro. E não só irá às urnas, como também marcará presença na convenção democrata que decorre em Chicago, no estado norte-americano do Illinois, até quinta-feira.
"Nunca pensei discursar numa convenção democrata", explicou Grisham num comunicado citado pela CBS News. "Mas, depois de ver em primeira mão quem Donald Trump realmente é, e a ameaça que ele representa para o nosso país, sinto que devo falar", apontou.
A ex-responsável, que assumiu vários papéis na Casa Branca, diz ainda que embora não concorde com Harris em todos os aspetos, está "muito orgulhosa de apoiá-la", já que a seu ver a democrata que vai defrontar Donald Trump vai "defender as liberdades e representar a nação com honestidade e integridade".
Ainda segundo uma fonte contou à CBS News, também Olivia Troye, uma ex-assessora do antigo 'vice' Mike Pence deverá falar nos próximos dias.
Outros responsáveis republicanos também devem prestar o seu apoio na convenção, como Adam Kinzinger, ex-membro da Câmara dos Representantes dos EUA ou Geoff Duncan, antigo governador da Geórgia.
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