O pedido foi feito numa carta dirigida ao Presidente do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva, entregue na Embaixada do Brasil, por participantes numa concentração e marcha em Caracas, que partiu da Praça Bolívar de Chacao (leste da capital) até à sede daquela representação diplomática.
"Deviam [as autoridades brasileiras] interceder porque todas estas pessoas são inocentes (...) não há assassinos, violadores ou ladrões. Aqui temos presos políticos", disse a familiar de um dos detidos no âmbito dos protestos pós-eleitorais.
Sol Ocariz, irmã do ativista dos direitos humanos e militante do partido opositor Primero Justicia, explicou ainda que o irmão está acusado injustamente de terrorismo, incitamento ao ódio e escândalo na via pública.
Ocariz argumentou também que as detenções decorrem devido ao interesse das autoridades em "minimizar a expressão e os direitos dos cidadãos a ter livre pensamento e vontade", contemplados na Constituição.
"Nunca me permitiram vê-lo (...) apenas lhe pude levar roupa e medicamentos", disse.
Por outro lado, Andreína Baduel, irmã de Adolfo Baduel, recordou que o seu pai, o ex-ministro venezuelano da Defesa general Raul Isaías Baduel, faleceu há alguns anos, quando estava detido por motivos políticos".
"Pedimos a mediação do Presidente Lula da silva, porque na Venezuela continuam a criminalizar a dissidência", disse, precisando que umas "2.500 famílias de detidos são constantemente ameaçadas e que os presos políticos são torturados".
Frisou ainda que "há que recordar ao mundo que na Venezuela, continuamos a ser vítimas de violações dos direitos humanos".
A organização não-governamental (ONG) venezuelana Fórum Penal (FP) indicou hoje que o número de presos políticos no país aumentou para 1.808, o maior deste século, a grande maioria dos quais desde os protestos pós-eleições presidenciais.
"Registámos e qualificámos o maior número de presos por motivos políticos conhecido na Venezuela, pelo menos no século XXI, e continuamos a receber e a registar detidos", anunciou a ONG na rede social X.
Os dados, atualizados até 09 de setembro, indicam ainda que mais de nove mil pessoas continuam "submetidas arbitrariamente" a restrições à liberdade. Dos 1.808 presos políticos, 1.673 estão detidos desde 29 de julho, início dos protestos pós-eleições presidenciais, adianta a ONG.
De acordo com a FP, entre os detidos estão 1.582 homens e 226 mulheres, 1.651 são civis e 157 militares, incluindo 60 adolescentes.
A ONG precisou ainda que, na última semana, uma pessoa foi libertada e 16 foram detidas e que 150 detidos foram condenados por tribunais e 1.658 aguardam julgamento.
Segundo a FP, desde 2014 até hoje foram detidas 17.577 pessoas por motivos políticos na Venezuela, das quais mais de 14.000 foram libertadas, após terem recebido assistência gratuita daquela ONG.
A Venezuela, país que conta com uma expressiva comunidade de portugueses e de lusodescendentes, realizou eleições presidenciais no passado dia 28 de julho, após as quais o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) atribuiu a vitória ao atual Presidente do país, Nicólas Maduro, com pouco mais de 51% dos votos, enquanto a oposição afirma que o seu candidato, o antigo diplomata Edmundo González Urrutia obteve quase 70% dos votos.
A oposição venezuelana e muitos países denunciaram uma fraude eleitoral e exigiram que sejam apresentadas as atas de votação para uma verificação independente.
Os resultados eleitorais têm sido contestados nas ruas, com manifestações reprimidas pelas forças de segurança, com o registo, segundo as autoridades, de mais de 2.400 detenções, 27 mortos e 192 feridos.
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