"Sanções da UE" poderiam travar preparação chinesa para invadir Taiwan
O grupo de reflexão Conselho Europeu das Relações Externas (ECFR) defende que ameaças de sanções por parte da União Europeia (UE) poderiam ser decisivas para travar a preparação de uma invasão de Taiwan pela China.
© Johannes Neudecker/picture alliance via Getty Images
Mundo investigadora
"As ameaças de sanções da UE seriam provavelmente a única coisa que poderia mudar o cálculo de Pequim na preparação para uma invasão de Taiwan. A Europa tem provavelmente mais influência do que pensa: A China não se pode dar ao luxo de perder o acesso aos mercados dos EUA e da UE ao mesmo tempo", argumenta Agathe Demarais, investigadora sénior do ECFR.
No artigo intitulado "Lições das Sanções Relacionadas com a Ucrânia para um Cenário de Conflito em Taiwan", publicado esta semana, a investigadora recorda como o líder chinês Xi Jinping tem afirmado ser "inevitável" a "reunificação" de Taiwan com a China continental.
Para a investigadora do 'think tank', um dos "piores cenários" seria o bloqueio marítimo de Pequim, seguido de uma invasão militar em grande escala.
"Para se prepararem para este cenário, que está longe de ser certo, a UE e os seus Estados-Membros precisam começar a ponderar as suas opções de estratégia económica contra a China, incluindo sanções financeiras e medidas comerciais", segundo o texto, que refere como as sanções impostas à Rússia desde 2014 poderiam servir como referência.
O artigo nota como depois da invasão russa da Ucrânia, em 2022, "foram as sanções da UE que provavelmente mais alarmaram Moscovo", uma vez que eventualmente não estaria no radar a imposição de medidas rigorosas como a proibição das importações de petróleo russo por via marítima.
"Segue-se uma segunda conclusão das sanções russas: os adversários da Europa não esperam, normalmente, que a UE adote medidas de sanção, e muito menos que opte por medidas fortes", acrescenta.
Numa eventual crise em Taiwan, ameaças de sanções dos 27 poderiam transformar o curso dos acontecimentos porque Pequim provavelmente não terá previsto esse cenário, devendo o foco passar por medidas "dura e rápidas" em relação ao acesso da China ao mercado comunitário, segundo a investigadora.
Esse foco é justificado ante os esforços de Pequim para se proteger de sanções através da 'desdolarização' (substituição do dólar norte-americano como moeda usada), do desenvolvimento de alternativas ao SWIFT (identificação de uma instituição bancária num processo de transferência internacional) e da adoção de moedas digitais.
A autora exemplifica que um "rude golpe" à economia chinesa poderiam ser proibições restritas de importação a bens de consumo não críticos e de gama baixa, incluindo-se, designadamente, aparelhos eletrónicos e vestuário por parte dos 27 e também das sete economias mais poderosas do mundo (G7).
Quando se colocar a questão de escapar às sanções, os decisores políticos da UE "devem concentrar os seus esforços em visar as instituições financeiras que processam transações relacionadas com a evasão às sanções" e evitar recorrer a sanções secundárias, o que obrigaria a envolver economias não alinhadas, diz.
"Um cenário de conflito em torno de Taiwan quase alimentaria os apelos a sanções secundárias da UE contra a China. O bloco deve resistir a esses apelos, uma vez que tem melhores opções para combater a evasão às sanções e convencer as economias não alinhadas a não se aproximarem demasiado da China", conclui.
Para Agathe Demarais, o enorme impacto decorrente da imposição de sanções deve desde já abrir campo para a possibilidade de apoio às empresas europeias que seriam mais afetadas e "reforçar esforços de sensibilização do público", além de preparar a luta contra provável desinformação chinesa sobre o assunto.
A autora lembra como em 2022 a Alemanha colocou a filial local da empresa russa Gazprom sob controlo estatal para proteger a segurança energética.
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