"Israel está a ganhar militarmente, mas a perder na opinião pública"

O académico israelita Uriya Shavit considera que Telavive está a ganhar militarmente o conflito contra os movimentos Hamas e o Hezbollah, mas está a perder a guerra na opinião pública internacional, e terá de negociar no futuro.

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© Ameer Abed Rabbo/Anadolu via Getty Images

Lusa
24/09/2024 17:16 ‧ 24/09/2024 por Lusa

Mundo

Tensão no Médio Oriente

Em entrevista à Lusa, o responsável pelo Instituto Irwin Cotler e professor do departamento de estudos árabes e islâmicos da Universidade de Telavive considera que Israel "não conseguiu mostrar que não há um bloco palestiniano único", distinguindo o Hamas (que governa Gaza) da Organização para a Libertação da Palestina (OLP, que governa a Cisjordânia).

 

A "ideologia do Hamas é que Israel não tem o direito de existir" e "qualquer tipo de paz só é possível se o Hamas for erradicado", afirmou Uriya Shavit, que está em Lisboa a convite da Comunidade Israelita local.

"Israel está a ganhar militarmente, mas a perder a guerra na opinião pública", admitiu o académico, salientando que o afastamento do Hamas do poder terá consequências.

"A guerra tem de acabar sem o Hamas governar em Gaza, o que realisticamente obriga a que Israel governe de modo temporário" o território, como "aconteceu na Alemanha em 1945 pelos aliados", afirmou, salientando que uma solução de futuro implica o "desmantelamento do modelo de gestão" do território e que "nenhuma criança pode ter fome ou ser sacrificada", sob risco de se estarem a criar uma "nova geração de terroristas".

Atualmente, "não há palestinianos que defendam negociações de paz porque serão mortos pelo Hamas", pelo que "é necessário proteger quem pensa de modo diferente" em Gaza e na Cisjordânia.

"O sistema de educação na Faixa de Gaza promove a desumanização dos judeus", exemplificou Shavit, que rejeita a possibilidade de cedências por parte de Israel

"Há dois territórios de que Israel se retirou unilateralmente" e "aceitou as fronteiras internacionais", disse, referindo-se à Faixa de Gaza e ao sul do Líbano.

"Olhem para como estão as coisas hoje e qual foi o resultado da saída", disse o investigador israelita.

Apesar dos problemas, o académico considera que é necessário um compromisso de todos.

"A negociação tem de ser retomada com mais criatividade e inovação, também com preocupações ecológicas", procurando "criar mais espaço" para as populações.

Hoje, "Israel deve anunciar que está comprometido com os acordos dos anos 1990 e procurar um parceiro palestiniano empenhado" nessa solução de dois estados, afirmou Uriya Shavit, admitindo que qualquer negociação não deve ser feita pelo executivo de Benjamin Netanyahu.

"Este governo não vai conseguir chegar a um acordo", mas "se existirem boas lideranças dos dois lados" pode haver "boas surpresas".

Por outro lado, "não é possível um estado palestiniano com o Hamas a existir", concluiu.

Leia Também: "Nos últimos anos houve um aumento dramático de incidentes antissemitas"

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