Mais de 1.400 pessoas foram mortas no Líbano, a maioria em ataques aéreos, e mais de um milhão foram deslocadas desde que os combates se intensificaram em meados de setembro.
Pelo menos 15 soldados israelitas e dois civis foram mortos desde o início da operação terrestre e mais de 60.000 pessoas foram deslocadas de cidades ao longo da fronteira durante mais de um ano.
O Hezbollah começou a disparar foguetes contra Israel em 08 de outubro de 2023, um dia depois de o grupo extremista palestiniano Hamas ter atacado o sul de Israel, o que desencadeou a guerra em Gaza.
Desde então, Israel e o Hezbollah têm trocado tiros quase diariamente, tendo-se aproximado de uma guerra total em várias ocasiões, mas recuando até este mês.
Principais informações sobre a atual incursão terrestre israelita no sul do Líbano, reunidas pela agência norte-americana AP:
Qual é o objetivo da invasão terrestre dos militares israelitas?
Os militares israelitas iniciaram o que designaram por "ataques terrestres limitados, localizados e direcionados" no sul do Líbano em 01 de outubro.
No mesmo dia, afirmaram que tinham levado a cabo dezenas de operações transfronteiriças secretas para destruir as infraestruturas do Hezbollah durante 2013.
O objetivo, segundo Israel, é permitir o regresso a casa dos residentes do norte do país que foram deslocados devido à troca de tiros com o Hezbollah.
Um oficial militar, que falou com a AP na condição de não ser identificado, disse que milhares de tropas israelitas estavam a operar ao longo da fronteira de cerca de 100 quilómetros de comprimento.
Tentam remover as plataformas de lançamento usadas pelo Hezbollah para disparar granadas propulsionadas por foguetes e mísseis antitanque para as cidades israelitas, bem como infraestruturas que permitiriam uma invasão de Israel ao estilo de 07 de outubro.
Segundo o mesmo militar, as tropas não se aventuraram até agora no interior do Líbano e conduziram operações a distâncias de algumas centenas de metros até dois a três quilómetros em território libanês.
Os militares israelitas partilharam vídeos do que dizem ser túneis escavados na rocha utilizados pelo Hezbollah para armazenar armas e organizar ataques.
Um dos túneis subterrâneos estendia-se do Líbano até ao território israelita, segundo os militares.
O objetivo não é destruir o Hezbollah, e o exército está ciente de que isso não eliminará a ameaça de foguetes e mísseis de longo alcance, disse o militar.
Elijah Magnier, um analista militar e antiterrorista baseado em Bruxelas, disse que as forças israelitas ainda não tomaram nenhuma posição no terreno.
"Precisam de entrar, assediar, testar e sair", afirmou.
Para manter posições terrestres, segundo Magnier, Israel precisaria que os tanques entrassem e tomassem terrenos críticos com vista para o território.
Para isso, seria necessário limpar cerca de 10 quilómetros da presença do Hezbollah, o que ainda está longe de acontecer, acrescentou.
Não é claro quanto tempo durará a operação ou quanto tempo Israel manterá uma presença nessas cidades.
A anterior invasão israelita do Líbano, em 1982, inicialmente destinada a afastar os militantes palestinianos, transformou-se numa ocupação de 18 anos.
Qual é a estratégia do Hezbollah?
Os responsáveis do Hezbollah, incluindo o líder assassinado Hassan Nasrallah, admitiram que as forças armadas israelitas têm uma força aérea e informações superiores. Mas o grupo xiita está em vantagem em confrontos diretos no território libanês.
As forças do Hezbollah dispõem de melhor equipamento e treino do que as do Hamas, contra o qual Israel luta há mais de um ano em Gaza, e adquiriram experiência em guerras na Síria e no Iraque.
O terreno do Líbano é também mais acidentado e difícil do que o do enclave palestiniano, que é maioritariamente plano e arenoso.
A estratégia do Hezbollah, liderada pelas forças de elite Radwan, tem consistido em atrair e emboscar as tropas israelitas que se aproximam, detonar engenhos explosivos ou disparar foguetes contra o inimigo.
O Hezbollah também dispara artilharia e foguetes contra as cidades fronteiriças israelitas.
Apesar de o Hezbollah ter perdido muitos comandantes de topo nas últimas semanas, os militantes continuaram a disparar foguetes contra Israel, incluindo fortes barragens contra a cidade de Haifa.
O ex-general do exército libanês Hassan Jouni disse que Israel ainda está a fazer reconhecimento antes do ataque principal, mas que já sofreu pesadas perdas nas operações mais pequenas.
Jouni referiu que o Hezbollah cavou muitos túneis no sul do país e está bem equipado com esconderijos de armas e munições.
"A terra trabalha sempre a favor de quem a possui", afirmou.
Como é que o conflito atual se compara com a guerra de 2006?
A última vez que Israel e o Hezbollah entraram em guerra foi em 2006, num conflito de 34 dias que terminou com a Resolução 1701 das Nações Unidas.
A ideia era empurrar o Hezbollah mais para norte e manter a região fronteiriça exclusivamente sob o controlo do exército libanês e das forças de manutenção da paz da ONU.
Os dirigentes israelitas afirmam que querem que o Líbano aplique a resolução. O Hezbollah afirma que Israel não cumpriu a sua parte do tratado e que deixará de disparar foguetes quando houver um cessar-fogo em Gaza.
A campanha aérea de Israel no sul do Líbano e em Beirute, nas últimas semanas, é semelhante à de 2006, embora, desta vez, a existência de melhores informações tenha permitido a Israel matar vários dos principais dirigentes do Hezbollah.
Israel matou Hassan Nasrallah, em setembro, lançando mais de 80 bombas num complexo de apartamentos construído sobre um complexo subterrâneo, em rápida sucessão.
Na guerra de 2006, Israel enviou tropas terrestres para o Líbano após 10 dias de ataques aéreos, retirando-as cerca de quatro semanas depois.
As tropas tentaram chegar ao rio Litani, cerca de 30 quilómetros a norte da fronteira, mas sofreram pesadas perdas antes de um cessar-fogo ter posto fim à operação e à guerra.
Poderá haver uma solução diplomática?
O líder interino do Hezbollah, Naim Qassem, deu a entender na terça-feira que o grupo está aberto a um cessar-fogo.
Yoel Guzansky, investigador do Instituto de Estudos de Segurança Nacional em Telavive, acredita que as tropas israelitas permanecerão no sul do Líbano até haver uma solução diplomática internacionalmente imposta que seja mais forte do que a atual força de manutenção da paz da ONU.
Se as tropas israelitas se retirarem, o risco é acontecer o mesmo que em 2006, quando o Hezbollah simplesmente se rearmou e retomou as operações.
O ex-primeiro-ministro Ehud Olmert, que era o líder de Israel em 2006, disse que essa guerra serviu como uma lição de que a diplomacia imediata, em vez da força militar, é a única maneira de manter a fronteira tranquila.
"Porque não tentar fazer um acordo agora em vez de lutar durante meio ano?", questionou numa entrevista à AP.
"Perde-se quantos soldados, mata-se quantas pessoas inocentes? E depois, no final, vamos fazer um acordo que podia ter sido feito antecipadamente", acrescentou.
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