A vitória do candidato da oposição, Edmundo González Urrutia, nas eleições presidenciais de 28 de julho - não reconhecida pelo regime liderado por Nicolás Maduro -, "foi conquistada com sangue, suor e lágrimas", descreveu o opositor, exilado em Espanha desde 2017, depois de mais de mil dias em prisão domiciliária na Venezuela na sequência de uma condenação a 26 anos de prisão por participar numa alegada conspiração para derrubar Maduro.
"Este processo [eleitoral] estava repleto de irregularidades, não só no dia 28 de julho, mas durante muitos meses. Maduro estava a planear uma fraude gigantesca. Foi possível derrotá-lo com a união de todos os setores políticos da Venezuela e com a mobilização de um povo inspirado pelas orientações que María Corina Machado [líder da oposição] e depois Edmundo González Urrutia deram a conhecer", defendeu Antonio Ledezma.
A oposição divulgou 83% das atas eleitorais das presidenciais, que revelam uma "vantagem monumental" de mais de quatro milhões de votos no candidato da oposição, mas o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) atribuiu a vitória a Maduro com pouco mais de 51% dos votos.
"Enquanto Edmundo González e María Corina mostram as atas, Maduro escondeu-as e pretende levar a cabo uma fraude para roubar não só as eleições, mas para roubar o futuro dos venezuelanos", considerou Ledezma, que assiste hoje à tarde no parlamento português a um debate agendado pela Iniciativa Liberal, que pede o reconhecimento do candidato da oposição como Presidente eleito da Venezuela.
Sobre o papel das forças armadas da Venezuela, que têm declarado lealdade ao regime de Maduro, o opositor afirmou que os "militares são chamados a se submeterem ao que diz o artigo 328.º da Constituição, para defenderem a soberania".
"E essa soberania está a ser vítima de um golpe de Estado por Maduro, porque, como diz o artigo 5.º da nossa Constituição, a soberania reside no povo, que a exerce livremente, e o povo exerceu livremente a sua soberania, dando um mandato a Edmundo González, no dia 28 de julho", sustentou.
"Não queremos que os militares façam proclamações a favor da oposição ou de María Corina ou de Edmundo. Não. Queremos que os militares se mantenham firmes na [defesa da] nossa Constituição", salientou Antonio Ledezma.
O antigo presidente da câmara de Caracas (2008-2015) apelou aos militares para que "não se prestem a cometer crimes contra a humanidade, que não permitam que as suas insígnias ou as suas bandeiras continuem a ser manchadas pelo sangue que Nicolás Maduro está a derramar".
Os militares, acrescentou, "sabem como foi o triunfo de Edmundo González, porque estavam em todos os centros de votação".
Para a oposição, Maduro está "cada vez mais isolado".
"Nenhum governo democrático no mundo, em todo o mundo, apoiou a proclamação de Maduro a 28 de julho, o que é muito importante", salientou Ledezma, que considera que o Presidente venezuelano "não tem apoio popular" e está "apoiado no cassetete".
Na entrevista à Lusa, o opositor lamentou também que a Venezuela se tenha transformado, disse, "num narco-Estado".
"Éramos um Estado petrolífero, deixámos de produzir petróleo, agora estamos a produzir cocaína, para vergonha dos venezuelanos. Antes, em Portugal, falava-se da Venezuela feliz, da Venezuela bela, da Venezuela dos músicos, da Venezuela dos poetas, da Venezuela que tinha grandes recursos minerais. Agora fala-se do grupo Tren de Aragua [organização criminosa que se dedica ao tráfico sexual, tráfico humano e tráfico de drogas]", deplorou.
O que a oposição propõe, declarou ainda Antonio Ledezma, "é fechar esse ciclo sombrio, vergonhoso, doloroso, para inaugurar um tempo em que a luz da liberdade e do progresso ilumine o território nacional".
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