"Apelamos a uma maior e mais significativa participação das economias emergentes, dos países em desenvolvimento e dos países menos desenvolvidos, em particular de África, da América Latina e das Caraíbas, nos processos e estruturas mundiais de tomada de decisões", afirmaram os líderes do BRICS numa declaração conjunta.
O grupo, que representa quase metade da população mundial, condenou ainda os bombardeamentos israelitas contra o território libanês e os centros humanitários na Faixa de Gaza, bem como os ataques contra o pessoal da ONU e as "ameaças à sua segurança", apelando a Israel para cessar imediatamente as suas ações.
"Condenamos a morte de civis e os danos maciços causados às infraestruturas civis em resultado dos ataques israelitas a zonas civis no Líbano", refere a declaração divulgada no final da reunião dos nove membros dos BRICS na cidade russa de Kazan.
"Sublinhamos a necessidade de preservar a soberania e a integridade territorial do Líbano e de criar condições para uma solução político-diplomática, a fim de manter a paz e a estabilidade no Médio Oriente", acrescenta o texto.
Os nove países - Rússia, China, Brasil, Índia, África do Sul, o Irão, os Emirados Árabes Unidos, o Egito e a Etiópia - advertiram ainda que "uma nova escalada do conflito na Faixa de Gaza ameaça aumentar as tensões, o extremismo e as consequências regionais e globais extremamente prejudiciais".
No Médio Oriente, a guerra desencadeada em Gaza pelo ataque do grupo islamita Hamas a Israel, em 07 de outubro de 2023, que matou cerca 1.200 pessoas em solo israelita e de onde outras 251 foram levadas como reféns, estendeu-se ao Líbano há pouco mais de um mês, onde o exército israelita tem intensificado a sua ofensiva contra o movimento xiita libanês Hezbollah.
Ao todo, de acordo com as autoridades libanesas, cerca de 2.500 pessoas morreram desde outubro de 2023, das quais mais de mil só nas últimas semanas, e mais de 11.000 ficaram feridas, quando 1,2 milhões de habitantes estão deslocados das suas casas.
Os países do grupo BRICS apelaram ao fim dos combates e à abertura de negociações na Ucrânia e no Médio Oriente, cujas ofertas "favoráveis" de mediação foram saudadas pelo Presidente russo, Vladimir Putin.
Na Ucrânia, as posições de Moscovo e de Kiev continuam irreconciliáveis, com intensos confrontos e as negociações de paz ainda muito pouco prováveis, 32 meses após o início da ofensiva russa.
"Temos de evitar uma escalada" na Ucrânia e "trabalhar em conjunto" para trazer a paz ao Médio Oriente, apelou o Presidente brasileiro Lula, através de uma videoconferência durante a reunião.
"Numa altura em que enfrentamos duas guerras que têm o potencial de se tornarem globais, é essencial restaurar a nossa capacidade de trabalhar em conjunto para um objetivo comum", acrescentou.
O Presidente chinês, Xi Jinping, estabeleceu três princípios sobre os conflitos: "não expandir o campo de batalha" na Ucrânia, "não escalar os combates" e "não provocar nenhuma das partes, a fim de apaziguar a situação o mais rapidamente possível".
Na véspera, o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, assegurou que estava em contacto com ambas as partes e manifestou o seu apoio a todos os "esforços para restaurar rapidamente a paz e a estabilidade".
O grupo BRICS condenou ainda a imposição de sanções unilaterais não apoiadas pelas Nações Unidas e apelou ao levantamento das sanções existentes, acusando-as de contradizer o Direito internacional e prejudicar os setores mais vulneráveis das populações dos países sancionados.
"As medidas coercivas unilaterais, incluindo as sanções económicas unilaterais e as sanções secundárias, que contradizem o direito internacional, têm consequências graves para o respeito dos direitos humanos, incluindo o direito ao desenvolvimento", afirmou o documento.
"Apelamos, por isso, à erradicação destas medidas", afirmaram os BRICS, que incluem dois países, o Irão e a Rússia, contra os quais foram impostas numerosas sanções.
Na mesma declaração, os países membros apelaram ainda a uma cooperação "reforçada" na luta contra as alterações climáticas.
"Reforçaremos a cooperação numa série de soluções e tecnologias destinadas a reduzir e a capturar as emissões de gases com efeito de estufa", afirmaram, acrescentando que condenam "as medidas unilaterais impostas a pretexto da luta contra as alterações climáticas e da proteção do ambiente".
O grupo BRICS, fundado informalmente em 2006 e que realizou a sua primeira cimeira em 2009, inclui países que representam cerca de um terço da economia mundial e mais de 40% da população global.
A cimeira, que teve início na terça-feira e irá prolongar-se até quinta-feira, está a ser realizada na cidade russa de Kazan, reunindo representantes do Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Etiópia, Irão, Egito e Emirados Árabes Unidos.
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