Sem cessar-fogo em Gaza e Líbano haverá maior imigração ilegal para UE

O presidente do Conselho Europeu alerta que, sem cessar-fogo em Gaza e Líbano, entre Israel, Hamas e Hezbollah, haverá mais imigração ilegal para a Europa, admitindo "desilusão" por a União Europeia não ser mais influente no Médio Oriente.

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© LUDOVIC MARIN/AFP via Getty Images

Lusa
25/10/2024 06:36 ‧ há 5 semanas por Lusa

Mundo

Charles Michel

"O facto de não estarmos a cumprir a necessidade de um cessar-fogo em Gaza e no Líbano cria e criará cada vez mais fluxos migratórios e algumas dessas pessoas preencherão as condições para obter o estatuto de refugiado, mas nem todas", afirma Charles Michel, em entrevista à Lusa e outras agências de notícias europeias no âmbito do projeto European Newsroom (Redação Europeia), em Bruxelas.

 

A cerca de um mês de deixar o cargo para depois ser sucedido na liderança da instituição pelo ex-primeiro-ministro português António Costa, o responsável acrescenta: "Se muitos líderes estão muito determinados em enfrentar seriamente o desafio da migração [...], também é necessário verificar as causas profundas das migrações, que são os conflitos e as guerras".

"Precisamos de estabilidade, precisamos de segurança, precisamos de paz para as pessoas da região e isto que está a acontecer em Gaza é simplesmente terrível", classifica Charles Michel.

De acordo com o presidente do Conselho Europeu, as tensões geopolíticas no Médio Oriente, assim como no Sudão, no Corno de África e noutras regiões com conflitos, têm "um impacto direto na Europa em termos de insegurança, em termos do tráfico de seres humanos".

"Temos a responsabilidade de promover os nossos valores democráticos, os nossos princípios baseados na humanidade e temos de ser mais determinados no terreno, caso contrário, isso só irá alimentar mais a imigração ilegal, haverá maiores fluxos [migratórios] e assistiremos a sociedades cada vez mais polarizadas", adianta Charles Michel.

Nesta entrevista à Lusa e as outras agências de balanço do seu mandato de cinco anos à frente do Conselho Europeu, o responsável admite estar "desiludido num ponto".

"Penso que a UE deveria ser muito mais ambiciosa para desempenhar um papel influente no Médio Oriente. Somos o principal parceiro económico de Israel, somos o principal parceiro em termos de desenvolvimento [...] e penso que deveríamos ser mais ambiciosos na utilização dos instrumentos de que dispomos em ambos os lados para trazer mais estabilidade", adianta, falando num "tragédia para a região e para o mundo".

As tensões na região do Médio Oriente aumentaram após o ataque de 07 de outubro de 2023 do movimento islamita palestiniano Hamas em território israelita, que fez mais de 1.200 mortos, na maioria civis, e cerca de 250 reféns.

Em retaliação, o exército israelita iniciou uma guerra contra o Hamas na Faixa de Gaza que já fez milhares de mortos e de feridos.

O cessar-fogo na Faixa de Gaza está a ser mediado, principalmente, pelos Estados Unidos, Egito e Qatar, que há meses buscam uma trégua entre Israel e o Hamas, mas as duas partes beligerantes não chegam a um acordo.

Mais recentemente, têm-se verificado intensos ataques israelitas no Líbano após o lançamento de mísseis iranianos pelo grupo xiita libanês Hezbollah, aliado do Irão.

Antigo primeiro-ministro belga, o político liberal Charles Michel, de 48 anos, presidiu ao Conselho Europeu durante dois mandatos desde dezembro de 2019 e até 30 de novembro de 2024, num período marcado por crises como a saída do Reino Unido da União Europeia, a pandemia de covid-19, a invasão russa da Ucrânia e, mais recentemente, o reacender das tensões no Médio Oriente.

Será agora sucedido no cargo pelo antigo primeiro-ministro português, António Costa, a partir de 01 de dezembro.

Leia Também: Michel diz que UE "não deve ter medo" de medidas para gerir pressão migratória

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