É sob um intenso sol caribenho e desafiando temperaturas superiores a 32.ºC - que mais convidam a um mergulho na praia vizinha - que dezenas de eleitores se deslocam este final de semana ao edifício-sede do município de Miami, um dos dezenas de locais de voto antecipado no sul deste estado com perto de 22 milhões de habitantes.
Sophia sai sorridente da mesa de voto, depois de pela primeira vez colocar a cruz no boletim, aos 21 anos de idade. Jovem mulher com instrução superior, é a típica eleitora da democrata Kamala Harris.
"Votei no Donald Trump. MAGA!", exclama com entusiasmo, encarando diretamente a câmara da Lusa. "MAGA", sigla em inglês para "Tornar a América Grandiosa de Novo" é a assinatura política do milionário norte-americano.
"Acredito completamente nas políticas económicas dele, que o nosso país estava muito melhor quando ele era Presidente e o mundo também. (...) Acho que precisamos que ele salve o mundo", justifica.
Faz questão, para não ser "mal interpretada", de esclarecer que gostaria de ver uma mulher Presidente, mas não a candidata democrata e vice-presidente nos últimos quatro anos.
"Não acho que ela seja esperta e tenha competência para liderar este país", afirma a jovem judia, que acredita que a eleição "está nas mãos de Deus".
Também mulher, Kim veio votar a favor de Trump, diz que vivia muito melhor no tempo do ex-presidente e debita argumentos com convicção contra Kamala Harris.
"Quando a vejo parece-me que não leva nada a sério, está sempre a dar risinhos e gargalhadas. Eu não vejo nenhuma razão para rir atualmente, quando vou ao supermercado e volto com dois sacos de compras por 350 dólares", afirma à Lusa a eleitora de 58 anos.
Além de não ter feito nada para minorar o problema da inflação, a candidata democrata foi uma vice-presidente ausente, enquanto Trump foi um Presidente que fazia dos Estados Unidos "respeitados e até um bocado temidos", acredita Kim, eleitora não registada por qualquer partido, mas de uma família italo-americana democrata.
Confrontada com as acusações que Trump enfrenta de ter instigado o assalto ao Capitólio a 06 de janeiro de 2021, responde que tal "não deveria ter acontecido, mas os motins" em cidades norte-americanas quando ele era presidente "também não". E invoca um argumento insubstanciado de que a democrata Nancy Pelosi, então presidente do Congresso, travou uma intervenção mais musculada naquele dia.
"Quem sabe? É verdade? Não sabemos", diz a eleitora MAGA, ostentando no peito o autocolante dizendo "Eu já votei" que recebem aqueles que depositam o voto antecipadamente.
É para um autocolante igual, mas no seu boné, que aponta Gilbert, sorridente, quando questionado pela Lusa sobre o seu voto.
E é também com o suposto bloqueio de Pelosi a 06 de janeiro que justifica a relativização do assalto ao Capitólio, sobre o qual "há muita confusão". "Não creio, não creio", responde quando questionado se considera o ex-presidente responsável.
"Ele disse aos seus apoiantes para marchar, mas tranquilamente, defender os seus direitos. Não entrar no Capitólio, não há provas de que tenha feito isso", justifica Gilbert, um cubano-americano que vota habitualmente no Partido Republicano.
"Trump ajudou muito este país nos quatro anos em que esteve lá. A economia cresceu, o desemprego baixou... Tem as suas questões, como todos têm, mas vejo-o como um bom Presidente", diz à Lusa o reformado.
A 10 dias das eleições de 05 de novembro, são já mais de 3,3 milhões os eleitores que votaram antecipadamente na Florida, perto de um quarto dos eleitores registados no Estado, segundo dados divulgados na sexta-feira.
O condado de Miami-Dade, 'coração' da cidade norte-americana com maior percentagem de sul-americanos, é tradicionalmente democrata, mas os republicanos têm vindo a ganhar terreno.
Sally Gonzalez, uma eleitora independente, confessa estar ainda indecisa: por um lado valoriza os direitos das mulheres, uma causa democrata, mas por outro condena a imigração ilegal, uma questão que Trump trouxe para o centro da sua campanha.
"Se fosse o último dia [para votar], votaria em Kamala", afirma a reformada, hesitantemente e apenas depois de alguma insistência sobre a sua preferência.
As idosas Maria e Dolores vieram juntas votar, e ambas por Kamala Harris. Mas justificam o voto com o desprezo por Trump.
"Tenho esperança... [Harris e Trump] estão muito próximos [nas sondagens], pode acontecer qualquer coisa. Se as pessoas começarem a averiguar e a apurar ganha a Kamala, porque o outro é um delinquente e um mentiroso e vai acabar com este país", diz Dolores à Lusa.
"Votei na Kamala porque é a única forma de correr com este deliquente. Além disso é fascista. E quem tem dúvidas é porque não lê, como diz a minha amiga", diz apontando para Maria.
Para Maria, o país "está melhor agora, digam o que disserem", do que no tempo de Trump.
"Mas as pessoas não leem, não se informam, repetem o que ouvem, como papagaios. Leiam para que estejam informados! Dizem que a economia está mal... mentira, está bem a economia. Que Deus nos acuda!", excalama a anciã, que confessa estar pessimista.
"Infelizmente - ela (Dolores) não acha, mas eu sim - [vai ganhar] Trump. Um homem que disse numa entrevista, uma pessoa que está a concorrer à presidência e que tem que ter educação... disse que a vice-presidente [Kamala] é 'uma merda'... Acha que quem fala assim pode estar na presidência?", questiona.
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