"Apelamos à Comissão Eleitoral Central e a outras autoridades competentes para que cumpram o seu dever de investigar rapidamente, de forma transparente e independente, e para que se pronunciem sobre as irregularidades e alegações eleitorais", escreveu Charles Michel na rede social X, referindo-se a uma avaliação preliminar efetuada por observadores eleitorais internacionais.
"Estas alegadas irregularidades devem ser seriamente esclarecidas e tratadas", continuou.
Os líderes dos 27 Estados-membros da União Europeia (UE) irão "avaliar a situação e determinar os próximos passos" nas relações com a Geórgia na sua reunião em Budapeste, no início do próximo mês, sublinhou Charles Michel.
A União Europeia tinha alertado para o facto de as hipóteses de a Geórgia vir um dia a aderir dependerem das eleições realizadas no sábado nesta antiga república soviética de cerca de quatro milhões de habitantes.
A oposição considera que a previsível vitória do partido no poder, Sonho Georgiano, irá aproximar a Geórgia de Moscovo e afastá-la da adesão à UE, um objetivo tão importante para uma grande parte da população que está consagrado na Constituição.
Hoje, os observadores da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE), da NATO e da UE afirmaram que as eleições legislativas do país foram "marcadas por desigualdades [entre candidatos], pressões e tensões".
Em Tbilissi, a Presidente da Geórgia, Salomé Zourabichvili, colocou-se hoje ao lado da oposição ao afirmar que o seu país foi vítima de uma "operação especial" russa.
Zourabichvili apelou aos georgianos para que se manifestassem às 19h00 de segunda-feira (15h00 em Lisboa) na rua principal da capital para protestar contra o resultado, que considerou ser uma "falsificação total, um roubo total".
A chefe de Estado não reconheceu os resultados da votação. "Estas eleições não podem ser reconhecidas, porque são o reconhecimento da intrusão da Rússia aqui, da subordinação da Geórgia à Rússia", disse Zourabichvili, citada pela agência Associated Press (AP).
Zourabichvili sugeriu que foram realizadas "eleições russas" no país e que "a tecnologia foi utilizada para encobrir a falsificação" e que "tal coisa nunca aconteceu antes".
A Comissão Eleitoral Central declarou hoje que o Sonho Georgiano obteve 54,8% dos votos, quando estão praticamente escrutinados 100% dos boletins de voto.
O primeiro-ministro, Irakli Kobakhidze, descreveu a vitória do Sonho Georgiano como "impressionante e óbvia", considerando que "qualquer tentativa de falar sobre manipulação eleitoral está condenada ao fracasso".
O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, foi o primeiro líder estrangeiro a felicitar o Sonho Georgiano e a visitar a Geórgia e reunir-se com o primeiro-ministro durante uma visita na segunda e terça-feira.
Os observadores eleitorais georgianos, destacados em todo o país, também relataram múltiplas violações e disseram que os resultados não refletem "a vontade do povo georgiano".
Os georgianos têm uma relação complexa com a Rússia, que os governou desde Moscovo até a Geórgia conquistar a independência da União Soviética em 1991. A Rússia e a Geórgia travaram uma curta guerra em 2008, e Moscovo ainda ocupa 20% do território georgiano.
O Sonho Georgiano obteve a maior quota de votos -- quase 90% das sondagens -- na região de Javakheti, no sul da Geórgia, a 135 quilómetros (83 milhas) a oeste da capital. Em Tbilissi, não obteve mais de 44% dos votos em qualquer distrito.
A região de Javakheti é predominantemente agrícola e muitas pessoas são de etnia arménia, e falam arménio, russo e georgiano limitado. Antes da eleição, a AP deslocou-se à região onde os eleitores sugeriram que tinham sido instruídos como votar pelas autoridades locais.
[Notícia atualizada às 21h14]
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