Alejandra, uma norte-americana nascida na Argentina há 53 anos e a viver nos Estados Unidos há 42, estava entre as dezenas de pessoas que no domingo esperavam numa longa fila para votar antecipadamente na Biblioteca Pública de Jackson Heights, no distrito nova-iorquino de Queens, onde os hispânicos representam 28% da população.
"Sem dúvida que a minha preocupação é com a imigração. Eu vivo neste bairro e tem sido muito difícil para mim viver aqui por causa dos imigrantes. Tudo está cada vez mais caro aqui também", explicou à Lusa a eleitora, que não quis dar o seu nome completo.
"É por isso que vou votar em Donald Trump. Precisamos de alguém que nos leve para a frente. Acho que é a melhor decisão para o futuro da minha família. Até gostava de ter uma mulher Presidente, mas precisamos de alguém forte a liderar este país", acrescentou.
Alejandra é apenas uma de vários imigrantesda América Latina que irão votar no candidato republicano, que promete "a maior deportação da história da América" se for reeleito Presidente.
Queens foi um dos distritos nova-iorquinos que mais requerentes de asilo recebeu em 2023 - mais de 40.000 migrantes que fizeram acentuar a crise migratória na região, com reflexos diretos nos preços da habitação e no número de sem-abrigo nas ruas.
A enorme multiculturalidade de Queens acaba por ser um atrativo para os imigrantes.
Conhecido como "The World's Borough" ("O Bairro do Mundo", em tradução livre), um reflexo do seu estatuto de condado mais diversificado dos Estados Unidos, Queens tem nele representados "190 países e 360 idiomas e dialetos", segundo dados do executivo local, com destaque para a crescente comunidade hispânica que alberga, num momento em que a maioria dos migrantes que chega a Nova Iorque é proveniente de países da América Latina e das Caraíbas.
Em 27 de outubro, um grande comício de Trump em Nova Iorque, no histórico Madison Square Garden, foi marcado foi insultos racistas contra a comunidade latina e por novas promessas de deportação de imigrantes.
Mas nem esses ataques fizeram alguns membros da comunidade latina recuar no apoio a Trump.
Na fila da Biblioteca Pública de Jackson Heights para votação antecipada - onde a média de tempo de espera era superior a 50 minutos e onde o espanhol era o idioma mais ouvido - estava também Mohamed Kan, um jovem trabalhador-estudante de 20 anos, que confidenciou à Lusa que votará no candidato Republicano.
"Não quero ser julgado, mas vou votar em Trump. Ele diz que vai resolver os problemas que mais me preocupam e eu quero acreditar que ele o fará", disse.
"Estou preocupado com esta imigração ilegal que aqui vemos, mas também com os altos impostos. Na realidade, anda tudo à volta do dinheiro", refletiu Mohamed.
Domingo foi o último dia para votação antecipada em Nova Iorque. De acordo com o Conselho Eleitoral da cidade, mais de um milhão de pessoas votaram antecipadamente. A nível estadual, a adesão rondou os dois milhões de eleitores - apesar de os números finais ainda não terem sido divulgados pelo Conselho Eleitoral do estado.
Bruce, um eleitor de 76 anos nascido no estado do Nebraska, mas a viver em Nova Iorque há mais de 30 anos, estava inicialmente relutante em revelar em quem iria votar, mas as duras críticas que foi tecendo à candidata democrata e vice-presidente, Kamala Harris, acabaram por denunciar a sua intenção de voto.
"A candidata democrata que está a concorrer para a Presidência nem sequer sabe o que está a propor para o país. Eu sei quais são as propostas do candidato republicano, ele não as esconde, mas dela não sei", começou por dizer o septuagenário.
"Ok, vou votar em Donald Trump, porque a maioria dos políticos em Washington DC não sabe o que realmente move o grande povo norte-americano. Além disso, se há alguma coisa de que Trump percebe é de economia", acrescentou Bruce, que também não quis fornecer o seu nome completo.
O dia da eleição presidencial norte-americana está marcado para a próxima terça-feira, quando as urnas em Nova Iorque abrirão às 06h00 (hora local, 11h00 em Lisboa) e encerrarão pelas 21h00 (hora local, 02h00 em Lisboa).
As eleições entram na reta final com Trump e Harris praticamente empatados nas sondagens em estados como a Carolina do Norte, Georgia e Pensilvânia, onde uma vitória fará a diferença em termos de votos do colégio eleitoral.
Em Nova Iorque, um estado tradicionalmente democrata, é Kamala Harris quem lidera as sondagens de intenção de voto.
O último candidato presidencial republicano que conseguiu vencer em Nova Iorque foi Ronald Reagan, em 1984.
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