O embaixador israelita nas Nações Unidas, Danny Danon, notificou hoje, através de uma carta à Assembleia Geral da ONU - da qual emana o mandato da UNRWA - o cancelamento do seu acordo de 1967 com a agência, depois de o Parlamento Israel ter proibido na semana passada a operação no seu território soberano.
Além disso, o Parlamento israelita proibiu a agência da ONU de manter qualquer tipo de contacto com entidades e funcionários israelitas, o que impede os seus trabalhadores de obter vistos ou mesmo de aceder a Gaza ou de atravessar postos de controlo militares na Cisjordânia ocupada.
Stéphane Dujarric, porta-voz do secretário-geral da ONU, António Guterres, destacou que os serviços jurídicos estão a estudar cuidadosamente a carta do embaixador israelita, mas em qualquer caso sublinhou que esta proibição "não tem qualquer efeito sobre a responsabilidade de Israel de prestar a ajuda necessária à população".
O porta-voz do diplomata português repetiu a ideia expressa em diversas ocasiões de que o papel daquela agência é fundamental, não só no trabalho humanitário, mas também na educação e na saúde, sublinhando que "não há alternativa à UNRWA".
O porta-voz da UNRWA, Jonathan Fowler, também reiterou hoje que sem a presença e atividade desta entidade em Israel "a ajuda humanitária em Gaza entraria em colapso".
"Esta lei é um ultraje que não cumpre as obrigações de Israel nos termos da Carta das Nações Unidas, bem como as decisões anteriores da Assembleia Geral e do Tribunal Internacional de Justiça", acrescentou.
Muito antes dos ataques do movimento islamita palestiniano Hamas de 07 de outubro de 2023 em território israelita, mas de forma exacerbada desde então, Israel tentou descredibilizar a reputação da UNRWA, afirmando mesmo que 10% dos seus 30.000 funcionários eram membros do Hamas, algo que foi negado após uma investigação independente, mas que provocou o congelamento temporário de fundos de muitos países membros da ONU, que os Estados Unidos ainda mantêm.
Nove membros da UNRWA poderão ter estado envolvidos no ataque do Hamas, de acordo com uma investigação de 05 de agosto do Gabinete dos Serviços de Supervisão Interna das Nações Unidas.
Desde 1949, a Assembleia Geral da ONU renovou o mandato da UNRWA a cada três anos, ao abrigo do qual presta serviços educativos e de saúde cruciais aos refugiados palestinianos que fugiram ou foram forçados a abandonar as suas casas durante a guerra israelo-árabe de 1948 que levou à criação de Israel.
Estes refugiados, juntamente com os seus descendentes, totalizam atualmente cerca de cinco milhões de pessoas distribuídas entre Gaza, Cisjordânia, Jordânia, Líbano e Síria.
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