"O país atravessa graves problemas que exigem que sejam enfrentadas determinadas obrigações. Os franceses não nos perdoariam se escolhêssemos os interesses privados em detrimento dos da nação", afirmou o chefe do Governo.
Barnier lembrou aos deputados que "devem decidir se a França se dota de um texto financeiro responsável e útil para os cidadãos ou se entra em território desconhecido".
Em causa está o orçamento da Segurança Social para 2025, que o chefe do executivo decidiu adotar sem votação parlamentar, abrindo a porta a uma moção de censura que tanto a extrema-esquerda como a extrema-direita já anunciaram que vão apresentar nas próximas horas.
A moção deverá ser debatida na próxima quarta-feira na Assembleia Nacional.
Apresentada oficialmente pela esquerda, a moção já conta com o apoio dos 140 deputados da extrema-direita de Marine Le Pen.
Desta forma, o antigo negociador da União Europeia para o 'Brexit' (saída do Reino Unido do bloco), nomeado a 05 de setembro para dirigir o executivo francês, poderá tornar-se o primeiro-ministro com o mandato mais curto de França desde a II Guerra Mundial.
Além disso, pode ser o segundo a ser destituído por uma moção de censura depois de Georges Pompidou em 1962.
O primeiro-ministro dirigiu-se à Câmara em tom solene para anunciar a aprovação do orçamento da Segurança Social sem votação parlamentar e apelou à responsabilidade dos grupos políticos "num momento-chave".
A decisão foi tomada após vários dias de negociações com a extrema-direita de Le Pen, a quem fez várias concessões, mas que não convenceu totalmente.
Barnier cedeu em três das quatro "linhas vermelhas" traçadas pela líder da extrema-direita: eliminou um imposto sobre a eletricidade, cortou a ajuda médica aos imigrantes ilegais e manteve os subsídios a vários medicamentos.
No entanto, recusou aplicar a última imposição, ou seja, o adiamento do aumento das pensões por meio ano para contrariar a inflação: Este tinha sido o último pedido que, minutos antes do debate parlamentar, Le Pen exigiu.
Nessa altura, Barnier já tinha tomado a decisão de avançar sem votação parlamentar, mesmo que isso colocasse o seu Governo à mercê de uma moção de censura.
A porta-voz do partido de esquerda França Insubmissa, Mathilde Panot, anunciou a apresentação da moção de censura e, através das redes sociais, a União Nacional, de Le Pen, anunciou que a irá apoiar.
O orçamento, composto por dois projetos de lei (da Segurança Social e do Estado) tem de ser adotado até ao final do ano, incluindo 40 mil milhões de euros em cortes e 20 mil milhões de euros em aumentos de impostos para reduzir o défice do país para 05% do produto interno bruto (PIB), contra 5,5% em 2023 e 6,1% em 2024.
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