"Há uma coisa de que tenho a certeza, e quero que se lembrem do que vos estou a dizer hoje, é que a censura, que é o tema do debate de amanhã [quarta-feira], tornará tudo mais difícil e mais grave", disse Michel Barnier (centro-direita), durante o período de perguntas ao Governo na Assembleia Nacional francesa.
O chefe do executivo, em funções há três meses, acrescentou que "a situação é difícil em termos do plano orçamental e do plano financeiro" e "muito difícil no plano económico e social".
O primeiro-ministro francês insistiu ainda que "todos sabem que a situação é difícil", alertando ainda que a dívida francesa "é mais grave" e "todos terão de a pagar um dia".
Durante este período de perguntas ao Governo, os ministros tiveram também a oportunidade de expor os argumentos que evidenciam os riscos de crise e de caos em caso de queda do Governo, demonstrando a sua "base comum" e união.
"Os agricultores vão pagar o preço desta censura", afirmou a ministra da Agricultura francesa, Annie Genevard, sobre um setor que há semanas se manifesta no país para denunciar os "entraves" à agricultura e o acordo de comércio livre UE-Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, Bolívia).
Já os presidentes dos grupos de oposição, aos quais o primeiro-ministro francês tem de responder, pareceram reservar as suas intervenções para o debate de quarta-feira, e que apenas o presidente do grupo comunista, André Chassaigne, abordou o tema.
"A crise democrática, social e política era previsível. É a consequência de uma estratégia de caos", afirmou André Chassaigne.
Barnier deverá falar ainda hoje sobre a crise às 19:00 horas locais (20:00 de Lisboa), respondendo a perguntas da imprensa em dois canais de televisão em direto da sua residência no Hôtel Matignon.
Na quarta-feira, a Assembleia Nacional (parlamento francês) vai debater e votar as moções de censura apresentadas pela coligação de esquerda Nova Frente Popular (NFP) e pela extrema-direita União Nacional (RN) contra o Governo de Michel Barnier, de 73 anos, segundo fontes parlamentares.
As moções de censura surgem depois de o primeiro-ministro de centro-direita e antigo comissário europeu ter apelado na segunda-feira ao Governo nomeado em setembro para que assumisse a responsabilidade pelo projeto de orçamento da segurança social e aprovado o orçamento da Segurança Social para 2025 sem votação.
A moção de censura tem todas as hipóteses de ser aprovada, com a votação necessária de 288 deputados, ao alcance de uma aliança de circunstância entre a esquerda e a extrema-direita.
Esta será a primeira moção aprovada em França desde 1962, o que faria do Governo minoritário de Michel Barnier, nomeado em 05 de setembro, o mais curto da história da V República, com o Presidente francês, Emmanuel Macron, a ter de nomear um novo primeiro-ministro.
Barnier, que inicialmente propôs um esforço orçamental de 60 mil milhões de euros até 2025, fez algumas concessões, nomeadamente à extrema-direita, e recuou nos esforços exigidos aos franceses face à derrapagem das finanças públicas, mas não foi suficiente para agradar aos deputados.
Assim poderá agravar-se a crise política criada pela dissolução da Assembleia Nacional pelo Presidente francês em junho, na sequência da vitória da extrema-direita nas eleições europeias. A eventual queda do Governo poderá também acentuar o risco de uma crise financeira ligada ao nível de confiança dos mercados e do défice público.
[Notícia atualizada às 16h25]
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