Mais de meio século de repressão a Síria com governo do partido Baath

O reinado do partido Baath, no poder há mais de meio século na Síria e que chegou hoje ao fim com a queda de Damasco para os rebeldes, foi, para muitos sírios, um símbolo de repressão.

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© OMAR HAJ KADOUR/AFP via Getty Images

Lusa
08/12/2024 10:03 ‧ 08/12/2024 por Lusa

Mundo

Síria

O presidente Bashar al-Assad, no poder há 24 anos, esmagou de forma sangrenta uma revolta pacífica que eclodiu em 2011, na sequência das revoluções árabes. Antes dele, o seu pai, Hafez al-Assad, também reprimiu os seus opositores.

 

O partido Baath, que defende a unidade dos países árabes, foi fundado em 17 de abril de 1947 por dois nacionalistas sírios formados em Paris, Michel Aflaq, cristão ortodoxo, e Salah Bitar, muçulmano sunita.

Em 1953, fundiu-se com o Partido Socialista Árabe, ganhando popularidade entre os intelectuais, os camponeses e as minorias religiosas, ao mesmo tempo que estabelecia filiais em vários países árabes, nomeadamente no Iraque.

Dois ramos rivais deste partido, um no Iraque e outro na Síria, estariam à frente de dois regimes autocráticos e inimigos.

Em 08 de março de 1963, o Baath tomou o poder na Síria na sequência de um golpe militar.

Um segundo golpe de Estado, em 23 de fevereiro de 1966, liderado pelo general Hafez al-Assad, entre outros, destituiu a direção do partido agrupada em torno de Aflaq e Bitar, provocando uma rutura com os 'baathistas' no poder no Iraque.

Um terceiro golpe de Estado, o "movimento de recuperação", em 16 de novembro de 1970, levou Hafez al-Assad à chefia do Estado. Assad prendeu o presidente deposto, Noureddine al-Atassi, durante 23 anos.

Uma nova Constituição aprovada no ano seguinte fez do partido Baath ("Ressurreição", em árabe) o "líder do Estado e da sociedade" e introduziu o "referendo presidencial".

Eleito presidente da República por referendo em 1971, Hafez al-Assad permaneceu no cargo até à sua morte, em junho de 2000.

Durante três décadas, o país fechou-se sobre si mesmo: a oposição e a imprensa foram amordaçadas, as manifestações foram proibidas e o estado de emergência foi declarado.

Em fevereiro de 1982, o regime reprimiu de forma sangrenta uma insurreição da Irmandade Muçulmana, a sua "besta negra", na cidade de Hama, no centro do país. As estimativas apontam para números entre os 10.000 e os 40.000 mortos.

Na ausência de oposição, o nome do "candidato" a presidente é proposto pelo partido e submetido a referendo. Durante cada eleição, Hafez, e depois o seu filho, Bashar al-Assad, são "eleitos" com mais de 90% dos votos.

Quando Bashar assumiu a presidência em julho de 2000, graças a uma alteração constitucional porque não tinha a idade exigida para aceder ao cargo supremo, os opositores denunciaram o advento de uma "República hereditária".

Bachar, tal como o pai, vem da minoria alauita, um ramo minoritário do Islão num país predominantemente muçulmano sunita.

As revoltas árabes que eclodiram na Tunísia, Egito e Líbia chegaram à Síria em março de 2011 e desafiaram a hegemonia do partido Baath.

Bashar al-Assad promete reformas, ao mesmo tempo que suprime de forma sangrenta a revolta.

Como parte das reformas prometidas, o governo sírio anunciou a realização de um referendo em 26 de fevereiro de 2012 sobre uma nova Constituição que põe fim à predominância do partido Baath e estabelece teoricamente o pluralismo político.

Mas a revolta degenerou em guerra civil, dividindo a Síria e deixando mais de meio milhão de mortos.

Entrando em Damasco no domingo graças a uma ofensiva fulminante, os rebeldes proclamaram "o fim desta página negra e o início de uma nova era para a Síria", depois de "50 anos de opressão sob o poder do Baath, e 13 anos de crime, tirania e deslocamento".

Leia Também: "A Síria não pertence à família Assad". Povo celebra queda do regime

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