Darfur pode ser próximo "campo de batalha do conflito" no Sudão

A região do Darfur, no oeste do Sudão, pode ser o próximo "campo de batalha do conflito" e, consequentemente, a origem de um novo país, declararam à Lusa investigadores do Instituto de Estudos de Segurança.

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Lusa
13/04/2025 08:11 ‧ ontem por Lusa

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Segundo contextualizou à Lusa a investigadora Maram Mahdi, do Instituto de Estudos de Segurança (ISS, na sigla em inglês), a região do Darfur abrange cinco estados sudaneses e "tem uma importância no conflito que não pode ser subestimada".

 

A força que se opõe ao Governo sudanês há dois anos - os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês) - controlam a maior parte do Darfur e, para a investigadora, "é provável que a região venha a ser a próxima fronteira e campo de batalha do conflito".

"As RSF capturaram algumas das capitais dos estados do Darfur logo no início da guerra, com exceção de Al-Fashir, mas os recentes ganhos das Forças Armadas Sudanesas (SAF, na sigla em inglês) na capital, Cartum, poderão incitá-las a expandir a sua expedição militar para oeste", declarou.

O investigador Moses Chrispus Okello explicou que o Darfur é etnicamente diferente do restante país, constituído nomeadamente pelo povo Massalit, alegadamente alvo de genocídio por parte das RSF.

"O Darfur tem imensos depósitos de petróleo e ouro, o que tem sido do interesse da Rússia e dos Emirados Árabes Unidos", contextualizou.

Com as RSF a prepararem-se para declarar um Governo paralelo no país, poderão existir, "no mínimo duas administrações a governar o Sudão", disse.

"Eu digo 'no mínimo', porque há grupos na zona do Darfur que manifestaram interesse numa separação", explicou.

Para o investigador, esta ideia "não é sem precedentes", uma vez que o Sudão do Sul "foi criado a partir de uma divisão do Sudão".

Assim, para Okello, a "divisão do Darfur, ou de qualquer outra área, seguirá provavelmente padrões semelhantes ao que se viu no Sudão do Sul, ou seja, as identidades étnicas estão a dividir áreas com base na sua perceção da marginalização histórica de Cartum".

"Portanto, essa é uma probabilidade muito, muito grande e é algo em que, na minha opinião, muitas pessoas precisam de começar a pensar", aconselhou.

No entanto, Okello disse que o rumo do Sudão pode também vir a ser semelhante ao da Líbia, em que a nação se mantém unida, "mas depois as diferentes administrações gerem as diferentes áreas".

"Todos estes são caminhos possíveis da situação a que estamos a assistir atualmente. O mais provável é que Darfur se divida em mais do que uma administração, até porque outros grupos étnicos locais poderão começar uma nova guerra para expulsarem as RSF da região", salientou.

Outra questão que Okello frisou é a possibilidade de os conflitos no Sudão e no Sudão do Sul "se misturarem".

"Se isso acontecer, as implicações regionais são bastante vastas e isso é algo que muitos Governos da região já estão a manifestar, como a Etiópia", salientou.

De acordo com a sua análise, a ocorrer, será em Nasir, no Alto Nilo, no Sudão do Sul, que fica precisamente perto da Etiópia, porque "é uma das áreas contestadas entre o Sudão e o Sudão do Sul que nunca foi resolvida quando o país se estava a dividir".

Segundo dados das Nações Unidas, o conflito que eclodiu em 15 de abril de 2023 entre o exército, comandado pelo general Abdel Fattah al-Burhane, governante de facto do país desde um golpe de Estado em 2021, e o seu antigo adjunto, o general Mohamed Hamdan Dagalo, chefe das RSF, já colocou cerca de 30 milhões de sudaneses - o que representa duas em cada três pessoas - a necessitarem de ajuda humanitária, numa altura em que os fundos internacionais disponíveis para este fim estão a ser reduzidos em todos os setores.

Também a Organização Mundial da Saúde alertou que 3,7 milhões de sudaneses estão afetados pela desnutrição.

Leia Também: Pelo menos 100 pessoas mortas em ataques em campos de deslocados no Sudão

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